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exibições de letras 15.032

Dez Anos Perdidos

Condenação Brutal

Dez anos perdido, trancado numa cela feito um bicho
Ouvia a voz do meu filho chorando de fome, reclamava
Meu nome
Naquele tempo nem pensei, muito menos raciocinei
A escolha da vida bandida foi um choque pra família
Era eu e mais quatro pivete, da zona oeste, cinco
Moleque de vê parada
Sem preguiça, com malicia, medo?
Não tinha medo de nada
Altas fita, gastava com as mina
Lá no parquinho lá da vila
Éramos o terror da área
Qualquer perreco perreco
Sem chance, era nós o destaque da coluna criminal
Ladrões mirim aterrorizam a cidade
Ninguém mais dorme com tranqüilidade
Quando Djalma pensava algo, agia rápido
Vamo agir, agencia essa aqui, dinheiro fácil sim
Manda aqui pra mim
Mas tudo que se faz aqui aqui se paga, desgraça, uma
Tocaia
No meio de um tiroteio, chumbo no peito
Desmaiei, quando acordei
Será que eu tô preso? Sim. Será um pesadelo? Não
Cadê os meus truta, será que morreram ou estão
Contando o dinheiro?
A cada cinco passo uma cela fechada, e os cara
Gritava
O grito de guerra do crime: Vai morrê! O demônio quer
Você!
Aqui num é a casa da titia, é o maior presidio da
América latina
Carandiru, Situiunhum
Quem disse que o homem não chora, aqui chora!

Quem já sentiu o frio da cela sempre vai lembrar
Eu peço pra Deus cuidar de quem ficou por lá
Quem já sentiu o frio da cela sempre vai lembrar
Eu peço pra Deus cuidar de quem ficou por lá

Uma visita do meu pai
Não conseguia olhar no meu rosto, de tanto desgosto
Oh Jesus! Me conduz, me mostra uma luz!
Só lembra em Jesus quando está em sufoco, sou louco!
Hoje em dia é fácil tirá a cadeia, é tão fácil como
Vestir uma meia
Na minha época se vacilasse, ganhasse uma tatuagem
Uma pinta azul seria mais um puto
Nos quatro canto, sem encanto
Clima de maldade no ar, os cara se matando na faca
Conclusão: Então, 19 mortos sem seleção
Revolta de uns, felicidades de outros, você num viu
Nada pescoço!
Celas fechadas, barulho de prato risadas
O aqui-agora já passou, jornal nacional já acabou
As luzes se apagam, os detentos se acalmam
Sono de malandro é sagrado
Mais eu não conseguia dormir, que barulho será esse
Aí?
Será mais um se enforcando na grade, sendo estuprado
Na verdade
Me lembro quantas noites acordado e eu falava sozinho
Passei por tudo isso, sem ninguém cruzar meu caminho
Mais isso, não era o fim.. Daquele filme que eu
Assisti

Quem já sentiu o frio da cela sempre vai lembrar
Eu peço pra Deus cuidar de quem ficou por lá
Quem já sentiu o frio da cela sempre vai lembrar
Eu peço pra Deus cuidar de quem ficou por lá

Quantos anos já estou aqui, seis anos, dez anos
Perdidos aqui
Fim de semana dia de faxina, ouvindo rap e pagode da
Periferia
Atividade esportiva, futebol, é o que liga
Então passa essa bola, vou fazer, esse gol agora
Pavilhão 8 vence o 2, por três a dois
Na hora da premiação, meu parceiro tremia de emoção
Olhos fornido como uns da criança primária, na escola
Sendo premiada
Hoje tem visita, com a Diraci, só você pra me fazer
Feliz
E o Valdeci e o João, como eles estão? Na correria
Como sempre irmão
Ao ver a foto do meu filho, como se parece comigo
Uma revolta por dentro, poderia estar com ele nesse
Momento
Fim da visita, abraços na despedida, parecia o última
Dia
Volto pra cela, acendo uma vela
Aguardo o outro dia, a mesma monotonia
80 índios armados de faca, despostos a furar mais um
Na faca
Virou rebelião, a tropa de choque invadiu o pavilhão
Surpresa
O diabo chegou pra te carregar, o inferno é seu lugar
Corpos esfumaçados furados de bala, mata mata e cospe
Na cara
Cacetada borrachada mordidas de cães, enfurecidos
Pastores alemães
Os ratos davam risada, a cada 05 que matava
O sangue cobria o rodapé, vou sair vivo dessa eu
Tenho

Quem já sentiu o frio da cela sempre vai lembrar
Eu peço pra Deus cuidar de quem ficou por lá
Quem já sentiu o frio da cela sempre vai lembrar
Eu peço pra Deus cuidar de quem ficou por lá

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