Vida de um caçador é um viver gozado
Naquele sertão pra quem é inclinado
Anta e cateto tem pra todo lado
Naquelas matanhas lugar cultivado
Se vê tá trançando, de rastro de veado
Domingo e dia santo eu fico animado
Eu trelo os cachorro e apronto o virado
E toco a buzina meio repicado
É cachorro que uiva na trela amarrado

Eu saio cedinho, bem de madrugada
Vejo rastro fresco na areia molhada
Eu sorto os cachorro e vou pra cilada
A minha espingarda já está preparada
Com bucha de cera e bem carregada
Escuto o tropé da minha cãozada
O bicho levanta, vem na disparada
Mateiro amarelo no pulo é picado
Eu atiro ele cai bem no meio da estrada

A buzina é metal, do bocal arcado
Patrona de couro de tigre pintado
Espingarda vinte e oito do cano troxado
Facão jacaré bem embainhado
Cavalo Pitiço hoje vai lotado
Tenho no arreio dois tentos engraxado
Ponho na garupa bem atravessado
O Pitiço traz o mateiro amarrado
Vem pingando sangue onde foi chumbado

Eu toco a buzina, chamando a cãozada, ai ai
Chega de um em um é o final da caçada, ai ai

Composição: Moacyr dos Santos / Jacozinho