Amanheceu a querência
Num silêncio absoluto
E o rincão veste luto
Por respeito ao domador
O picaço se perdeu
E o poliango vinha no laço
Três negros no mesmo espaço
E a negra morte acampou

Se quedou numa rodada
Dessas que a lida atropela
Ao tranco varou a cancela
E da vida se apeiou
Três negros no mesmo espaço
E a negra morte acampou

Quem visse o negro domando
Lidando com corda e potro
Um xucro domando outro
Dois touros num só rodeio
Repassou ensinamentos
Desde o cabresto ao bocal
Envidado nos recaus
Mestre na lida do freio

Quando tiro a passarinha
De um potro que aceita o freio
E cruzo rangindo arreio
Donde plantaram tua cruz
Vejo o pago que traduz
A tua história contada
Na boca da cavalhada
Pelos mansos da minha pampa
Feito um quadro que se estampa
O picaço das encilha
Segue adornando as flexilhas
Pastando em volta da campa
Na boca da cavalhada
Pelos mansos da minha pampa

Cada um tem sua sina
Carrego a de cantador
A tua de domador
Transcreveu para as barbelas
A minha eu trago na goela
Que a terra lhe seja leve
Nessas horas se percebe
Cantando as coisas da lida
Que o que se leva da vida
É as coisas que a gente escreve

Composição: Jairo Lambari Fernandes / Paulo Garcia