Pitoco era um cachorrinho.
Que ganhei do meu padrinho
Numa noite de natal.
Era muito esperto, tinha os dois olhos bem vivos.
Saltava pra lá e pra cá
Bem cedo me levantava, Pitoco era quem me chamava,
Com seus latidos sem parar.
Me fazia tanta festa, lambia minha testa,
e queria até me beijar.
Nos domingos bem cedinho, pegava meu bodoquinho,
Com as pelotas no embornal
Pitoco corria na frente,
Dando saltos de contente
Rolando nos capinzais.
Pitoco latia, latia mostrava tanta alegria.
Sem nada poder cismar, eu tocava uma pelota
Fazia virar cambota, um pobre de um sabiá.
Aquele divertimento, de grande contentamento
Ia até o sol raiar.
E hoje dói a minha consciência, por minha desobediência,
Veja só o que foi se dar...
Era um domingo do mês,
No dia de Santa Inês,
Tinha festa no arraial.
Minha mãe e as criançadas,
Todos de roupa trocada,
Saímos pelas estradas,
Na capela pra rezar...
Eu fui por um caminho,
Com Pitoco e o bodoquinho...
De repente fiquei fria
Gritei por Virgem Maria,
Um urutu na rodilha.
Deu um bote pra me pegar...
(Fim do declamado)

Pitoco saltou na frente
Repicou toda serpente
Mas não pode escapar.
Na hora que ele morria
Parece que até sorria
Da minha patifaria.
Eu não pude salvar.....
Coitado morreu latindo
O olho lindo e tão vivo...
E nesse mundo tão louco
Onde os amigos são poucos,
Depois que morreu Pitoco
Nunca mais tive outro igual...

Composição: Abílio Victor