Vozes das Invernadas
Marcio Nunes Corrêa
Vem do posto da pitangueira dois campeiros de à cavalo
Um num mouro tapado da cabeça encarneirada
Numa marcha troteada de parar água no toso
O outro é uma curunilha num baio ovo-de pato
Tal um retrato do pago sobre a moldura do estribo!
O vento faz redemoinho de franjas nas cabeçadas
Pelas orelhas trocadas vai a tenência dos pingos
A cachorrada ovelheira campeia a volta do gado
Que estende encordoado, tranqueando manso e se indo
Quando um touro fumaço ganhando o campo do fundo
Entoa um berro pra o mundo, que é o seu canto de guerreiro
Com ponteios naturais e acordes de picardia
Que tem poesia e retovo por simples e verdadeiro
Gritos de: Pega cachorro, quando nos toca a bolada
É o hino destas canhadas, é um verso do pastoreio
Que não ficará esquecido na goela de um sulino
Enquanto existir malino refugador de rodeio
Um contracanto imediato dos ovelheiros acoando
Como que reclamando da cria que sai do ninho
Sonoridade rural parida num descampado
Pra aconselhar touro alçado cantando junto ao focinho
São vozes nas invernadas, cachorro, touro e campeiros
Mas são os pingos parceiros, que mostram alma e essência
Pondo inquietude no andar, pedindo freio, escarçeando
Como quem canta sonhando numa ronda da querência!
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