Sarah

Si vous la rencontrez bizarrement parée
Traînant dans le ruisseau un talon déchaussé
Et la tête et l'oeil bas comme un pigeon blessé
Monsieur, ne crachez pas de juron ni d'ordure
Au visage fardé de cette pauvre impure
Que déesse famine a par un soir d'hiver
Contrainte à relever ses jupons en plein air
Cette bohème-là, c'est mon bien, ma richesse
Ma perle, mon bijou, ma reine, ma duchesse

La femme qui est dans mon lit
N'a plus 20 ans depuis longtemps
Les yeux cernés
Par les années
Par les amours
Au jour le jour
La bouche usée
Par les baisers
Trop souvent, mais
Trop mal donnés
Le teint blafard
Malgré le fard
Plus pâle qu'une
Tâche de lune

La femme qui est dans mon lit
N'a plus 20 ans depuis longtemps
Les seins si lourds
De trop d'amour
Ne portent pas
Le nom d'appâts
Le corps lassé
Trop caressé
Trop souvent, mais
Trop mal aimé
Le dos vouté
Semble porter
Des souvenirs
Qu'elle a dû fuir

La femme qui est dans mon lit
N'a plus 20 ans depuis longtemps
Ne riez pas
N'y touchez pas
Gardez vos larmes
Et vos sarcasmes
Lorsque la nuit
Nous réunit
Son corps, ses mains
S'offrent aux miens
Et c'est son cœur
Couvert de pleurs
Et de blessures
Qui me rassure

Sarah

Se vós a encontrardes estranhamente vestida
Arrastando, no regato, um salto danificado
E, com a cabeça e os olhos baixos, como um pombo ferido
Senhor, não cuspais insultos nem lixo
No rosto pintado daquela pobre impura
Que deusa Fome, numa noite de inverno
Obrigou a levantar as saias ao ar livre
Aquela boêmia é meu bem, minha riqueza
Minha pérola, minha joia, minha rainha, minha duquesa

A mulher que está no meu leito
Já não tem vinte anos há muito tempo
Os olhos cheios de olheiras
Pelos anos
Pelos amores
No dia a dia
A boca gasta
Pelos beijos
Frequentemente demais, mas
Por demais mal dados
A tez macilenta
Apesar do blush
Mais pálida que uma
Mancha da Lua

A mulher que está no meu leito
Já não tem vinte anos há muito tempo
Os seios tão pesados
Por amor em demasia
Não têm
O nome de atrativos
O corpo cansado
Acariciado por demais
Frequentemente demais, mas
Por demais mal amado
As costas arqueadas
Parecem sustentar
Lembranças
Das quais teve que fugir

A mulher que está no meu leito
Já não tem vinte anos há muito tempo
Não riais
Não toqueis nela
Poupai vossas lágrimas
E vosso sarcasmo
Quando a noite
Nos reúne
Seu corpo, suas mãos
Se dão aos meus
E é seu coração
Coberto de prantos
E de feridas
Que me reconforta

Composição: Georges Moustaki