O que é Black English? A origem do dialeto dos negros americanos
Inglês · Por Larissa Granato
31 de outubro de 2022, às 09:00
Como qualquer outra língua natural, o inglês passa por adaptações dependendo do seu contexto de uso: as gírias dos britânicos e dos americanos não são as mesmas, os australianos e canadenses não produzem todos os sons da mesma forma, e assim por diante.
Quando se trata de variação linguística, uma lógica parecida à das diferenças geográficas se aplica a grupos sociais. É daí que vem o African American Vernacular English (AAVE) ou Black English, dialeto falado pela população negra norte-americana.
Seja na sua playlist, em livros ou nas suas séries e filmes favoritos, você provavelmente já teve contato com o black english.
Apesar de muitas vezes ser reduzido a gírias ou considerado uma maneira “errada” de falar, o dialeto tem sua própria história e características. Bora conhecer melhor a cultura e estrutura do AAVE?
Como o black english surgiu?
O black english surgiu no século 17, quando africanos escravizados nos Estados Unidos não podiam manter seus idiomas nativos.
Os escravocratas não queriam que eles se comunicassem em idiomas que os americanos não pudessem entender, mas a educação formal no inglês também era negada aos escravizados. Isso fez com que eles precisassem criar seu próprio estilo linguístico.
O AAVE moderno deriva do inglês falado pelos colonos que supervisionavam as plantações de algodão, além dos diferentes idiomas dos países de origem dos africanos que lá trabalhavam.

Hoje em dia, apesar de às vezes ainda ser estigmatizado como menos culto, o dialeto é uma celebração da cultura negra e uma forma de honrar a história e as identidades negras na América.
Principais características do black english
O black english não é o inglês falado errado, mas sim uma versão diferente do idioma com suas próprias regras.
A maioria dos seus falantes tem muita experiência com code-switching, a alternância entre o dialeto e o inglês padrão. Ou seja, eles são proficientes nas duas formas de se comunicar.
Vamos conferir alguns dos padrões que essa variedade linguística segue? 👀
Pronúncia
O chamado blaccent é o conjunto de várias características de pronúncia apresentadas pelos falantes do African American Vernacular English. Algumas delas podem inclusive ser representadas por escrito:
- O som /ŋ/, geralmente representado pela terminação -ng, é pronunciado como /n/ mesmo. Na escrita, vemos isso na forma do n + apóstrofo, como em Smokin’ Out The Window do Silk Sonic.
- O som do “r” costuma não ser produzido em palavras com terminação -ar ou -er. Você pode encontrar as palavras dollar e gangster sendo pronunciadas como dolla e gangsta, por exemplo.
- Terminações como -ure e -or costumam ser pronunciadas /oʊ/, como em show, e escritas como o’. For sure, por exemplo, vira fo’ sho.
Quer uma boa notícia? Você vai encontrar milhares de exemplos dessas características de pronúncia nas suas canções favoritas, principalmente nos gêneros R&B, rap, hip-hop, blues e jazz.

Vocabulário
Muitas das palavras e expressões do black english são simplesmente tomadas por gírias da internet e do chamado “gueto” ou resumidas ao seu uso em estilos musicais como o rap.
Estas são algumas palavras que talvez você conheça sem saber que vieram do AAVE:
to slay | arrasar, ser bem-sucedido |
trippin’ | viajando, sendo irracional |
savage | ousado, brutalmente honesto, alguém que fala “sem dó” |
crib | casa, residência |
to diss | desrespeitar, falar mal |
Uso de ain’t
A contração ain’t é muito comum no AAVE. Apesar da semelhança com am not, ela pode representar diferentes verbos auxiliares + not.
I ain’t seen her. (I haven’t seen her.) | Eu não a vi. |
They ain’t here. (They aren’t here.) | Eles não estão aqui. |
The concert ain’t happening. (The concert isn’t happening.) | O show não vai acontecer. |
I ain’t got a clue. (I don’t have a clue.) | Não tenho ideia. |
Dupla negativa
A dupla negativa também é incorreta no inglês padrão, mas é frequentemente usada para dar ênfase no AAVE (e no português brasileiro!). Ela geralmente inclui o ain’t.
I ain’t got nothing to say to you. (I don’t have anything to say to you.) | Eu não tenho nada pra te dizer. |
There ain’t no time for that. (There isn’t any time for that.) | Não tem tempo pra isso não. |
Omissão do verbo to be
No black english, podemos omitir is ou are sem alterar o sentido da frase.
— How [are] you feeling? | Como você está? |
— I’m good. Listen, my sister told me to let you know she [is] gonna be late. | Tô bem. Olha, minha irmã me disse pra te avisar que ela vai se atrasar. |
Olha só esse exemplo da icônica I Like To Move It (ou Eu Me Remexo Muito, pros mais íntimos), do will.i.am:
We just party hard
Nós só festejamos pra valer
And not because we [are] bored
E não porque estamos entediados
Concordância da terceira pessoa do singular
No AAVE, é comum que os verbos no presente do indicativo não tenham flexão, independente da pessoa. Ou seja, nem sempre se adiciona o “s” ao final dos verbos conjugados por he, she e it.
He love that song. (He loves that song.) | Ele ama aquela música. |
She don’t care about that. (She doesn’t care about that.) | Ela não liga pra isso. |
Também é comum que a forma singular passada do verbo to be, was, seja usada para todas as pessoas e não apenas para os pronomes pessoais I, she, he e it. Olha só esse trecho de Grenade, do Bruno Mars:
Should’ve known you was trouble from the first kiss
Deveria ter percebido que você era encrenca desde o primeiro beijo
Aprenda inglês com 5 músicas do Bruno Mars
Be + verbo com -ing para descrever hábitos
Esse não é um tempo verbal oficial na língua inglesa padrão, mas a estrutura sujeito + be +-ing é usada no black english para descrever hábitos, ou seja, ações ou sentimentos recorrentes.
Subject | be | -ing verb | + |
He | be | wasting | my time. |
Ele está desperdiçando meu tempo. | |||
They | be | saying | they’re not into Beyoncé’s new sound. |
Eles andam dizendo que não curtem o novo estilo de música da Beyoncé. |
Dá só uma conferida nessas distinções importantes:
She is working overtime. — ela está trabalhando além da sua carga horária nesse exato momento. Aqui, usamos o present continuous para descrever uma ação em tempo real.
She workin’ overtime. — ela está trabalhando além da sua carga horária nesse exato momento. Também estamos usando o present continuous, mas o “is” foi omitido como é comum que aconteça no AAVE.
She be workin’ overtime. — ela não necessariamente está no trabalho nesse momento. Ela costuma trabalhar além da sua carga horária, faz isso com frequência.
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