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Depois do Leilão

Alfredo Marceneiro

Letra

    A casa da Mariquinhas
    Já nada tem que a destaque
    As discretas tabuínhas
    São dum velho bricabraque
    Em prol da urbanização
    E d´outras leis citadinas
    Inventaram-se as ruínas,
    Impôs-se a demolição.
    Lá foram no turbilhão
    Muitas relíquias velhinhas,
    Porém, as fúrias daninhas
    Das inovações em suma,
    Por "salvação", ficou uma:
    "A casa da Mariquinhas"

    Mas, outra fisionomia
    Lhe deram; não tem guitarras,
    Lá dentro não há cigarras
    Cantando a sua alegria.
    À porta por ironia,
    Há um porteiro, um basbaque,
    A olhar por um "Cadillac"
    da pessoa que lá mora...
    Das coisas velhas d´outrora
    Já nada tem que a destaque.

    No célebre primeiro andar
    Que a Mariquinhas deixou
    Nem uma placa ficou
    Do seu nome a assinalar.
    Abertas de par em par
    As janelas, são mesquinhas,
    Até as próprias vizinhas
    Confessam com amargor
    Que falavam mais de amor
    As discretas tabuínhas.

    A Ti´Ana, a capelista,
    Triste, queixa-se das vendas,
    Já não tem saída as rendas
    Nem os xailes à fadista.
    O Perdigão penhorista,
    Um velho de côco e fraque
    Diz que tudo esteve a saque,
    Que só ´spartilhos e ligas
    Porque eram coisas antigas
    São dum velho bricabraque


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