Guitarra Negra (poema)
Alfredo Zitarrosa
Violão Preto (poema)
Guitarra Negra (poema)
Como te levarei para dentro, guitarra
Cómo haré para tomarte en mis adentros, guitarra
Como te farei sentir meu amor desajeitado
Cómo haré para que sientas mi torpe amor
Meu desejo de te soar inteira e minha
Mis ganas de sonarte entera y mía
Como se toca sua carne de ar, seu toque perfumado
Cómo se toca tu carne de aire, tu oloroso tacto
Seu coração sem fome, seu silêncio na ponte
Tu corazón sin hambre, tu silencio en el puente
Sua quinta corda, seu bastão masculino e escuro
Tu cuerda quinta, tu bordón macho y oscuro
Seus parentes cantores, suas três almas
Tus parientes cantores, tus tres almas
Conversadores como garotas
Conversadoras como niñas
Como alguém pode amar vocês sem dor, sem pressa
Cómo se puede amarte sin dolor, sin apuro
Sem testemunhas, sem mãos que os ofendem
Sin testigos, sin manos que te ofendan
Como chegar até vocês, meus amados homens e mulheres, violão
Cómo traspasarte mis hombres y mujeres bien queridos, guitarra
Amores dos meus outros, minha certeza de te amar como poucos
Mis amores ajenos, mi certeza de amarte como pocos
Como dar-te todos aqueles nomes e esse sangue
Cómo entregarte todos esos nombres y esa sangre
Sem inundar o teu coração de sombras, tremores e morte
Sin inundar tu corazón de sombras, de temblores y muerte
Cinzas, solidão e raiva, silêncio, lágrimas idiotas
De ceniza, de soledad y rabia, de silencio, de lágrimas idiotas
Hoje a morte procurava algo entre os meus livros
Hoy anduvo la muerte buscando entre mis libros alguna cosa
Hoje à tarde ele caminhou, entre papéis, descobrindo como estou
Hoy por la tarde anduvo, entre papeles, averiguando cómo he sido
Como tem sido a minha vida, quanto tempo perdi
Cómo ha sido mi vida, cuánto tiempo perdí
Como escrevia quando havia verdureiros que vinham das fazendas
Cómo escribía cuando había verduleros que venían de las quintas
Quando tinha duas namoradas, um jopo fofo, dois pares de sapatos
Cuando tenía dos novias, un lindo jopo, dos pares de zapatos
Quando não havia televisão, aquele mundo a meus pés
Cuando no había televisión, ese mundo a los pies
Violento, imbecil, opressor, aquele romance malandro escrito por um louco
Violento, imbécil, abrumador, esa novela canallesca escrita por un loco
Hoje a morte caminhava entre meus livros procurando meu passado
Hoy anduvo la muerte entre mis libros buscando mi pasado
Procurando o Verões de 40, os meninos embaixo da mangueira
Buscando los veranos del 40, los muchachitos bajo la manguera
Os cochilos clandestinos, as bananas do bairro
Las siestas clandestinas, los plátanos del barrio
Assassinados, cravados na alma
Asesinados, tallados en el alma
Hoje, a morte conferia minha passagem de bonde
Hoy anduvo la muerte revisando mi abono del tranvía
Meus amigos, seus nomes, as noites de café de Montevidéu
Mis amigos, sus nombres, las noches de café Montevideo
As encomiendas por la Onda com cheiro de ensopado
Las encomiendas por la Onda con olor a estofado
Checando meu pai, sua Berreta, seu Baldomir
Revisando a mi padre, su Berreta, su Baldomir
Checando minha mãe, sua hemiplegia, o batllista Uruguai
Revisando a mi madre, su hemiplegia, al Uruguay batllista
Querido Aristides, meus amados anarquistas sob bandeira
A Aristides querido, a mis anarcos queridos bajo bandera
Sob mortalha, sob vinhos e versos sem fim
Bajo mortaja, bajo vinos y versos interminables
Hoje a morte andou checando os ruídos do telefone
Hoy anduvo la muerte revisando los ruidos del teléfono
Diferentes sob os dedos indicadores, as fotos, o termômetro
Distintos bajo los dedos índices, las fotos, el termómetro
Os mortos e os vivos, os fantasmas pálidos que me habitam
Los muertos y los vivos, los pálidos fantasmas que me habitan
Suas múltiplas mãos e pés
Sus pies y manos múltiples
Seus olhos e dentes, sob suspeita de subversão
Sus ojos y sus dientes, bajo sospecha de subversión
E ele não encontrou nada
Y no halló nada
Não conseguiu encontrar Batlle, nem meu pai nem minha mãe
No pudo hallar a Batlle, ni a mi padre ni a mi madre
Nem Marx, nem Aristides, nem Lenin, nem Príncipe Kropotkin
Ni a Marx, ni a Aristides, ni a Lenin, ni al Príncipe Kropotkin
Nem Uruguai, nem qualquer outro
Ni al Uruguay ni a nadie
Nem o falecido mais recente Fernández
Ni a los muertos Fernández más recientes
Ele também não me encontrou
A mí tampoco me encontró
Eu tinha pegado um ônibus para o Cerro e estava sentado ao lado da vida
Yo había tomado un ómnibus al Cerro e iba sentado al lado de la vida
Passei pelo Nocturno e a vida pintou alguns cartazes
Pasé frente al Nocturno y la vida había pintado unos carteles
Eu perguntei em um canto sobre o tempo
Pregunté en una esquina por la hora
E na bolsa do homem que me disse que o tempo
Y en la bolsa del hombre que me dijo la hora
Era a vida, junto com o seu lanche
Iba la vida, junto con su almuerzo
Hoje vou deixar as portas e janelas da minha casa, abertas
Hoy dejaré las puertas y las ventanas de mi casa, abiertas
E a noite vai entrar todas as janelas de minha casa
Y la noche entrará por todas las ventanas de mi casa
Por todas as janelas de todo o bairro
Por todas las ventanas de todo el barrio
Por todas as janelas de todos os quartéis e todas as prisões
Por todas las ventanas de todos los cuarteles y de todas las cárceles
Por todas as janelas dos hospitais
Por todas las ventanas de los hospitales
A noite vai entrar, balançar a cabeça, vai pular para dentro
La noche entrará, cabeceando, saltará para adentro
Sombra a sombra à luz da lanterna
Sombra a sombra a la luz del farol
E ele se deitará no chão como um cachorro
Y se echará en el piso como un perro
E esperará até o amanhecer
Y aguardará hasta la madrugada
Hoje
Hoy
Deixarei as portas e janelas da minha casa
Dejaré las puertas y las ventanas de mi casa
Abertas, para sempre
Abiertas, para siempre
Meu coração está melhor situado que minha casa
Mi corazón está mejor situado que mi casa
Minha casa, mais cercada que meu bairro
Mi casa, más cercada que mi barrio
Meu bairro, cercado por meu povo
Mi barrio, cercado por mi pueblo
O presidente mora no meu bairro
En mi barrio vive el Presidente
Cercado por uma parede quase desabada
Cercado por un muro casi derrumbado
Tremendo, com a frente fendida pelo marrom
Temblando, con el frontal partido con el marrón
Pelo acastanhado, cai sobre as costelas, pesado como um mundo, o boi
Por el marronero, cae sobre sus costillas, pesada como un mundo, la res
Cai com estrondo, de bruços no cimento
Cae con estrépito, de bruces sobre el cemento
Bala quando seus ossos se desmembram, e só um pobre e imensa cremalheira
Balando al descuajarse su osamenta, ya solo un pobre costillar enorme
E só um pobre couro e sangue, meia tonelada de ossos estilhaçados
Ya solo un pobre cuero y sangre, media tonelada de huesos astillados
Presa em toda aquela vida trêmula e atônita
Hincados en toda esa vida temblorosa y atónita
Lá se ergue, como um puxão pesado
Ahí se va alzando, como un pesadopingajo
Preso pela perna por um gancho que pula acima dela
Atrapada por la pata por un gancho que le salta arriba
Que a levanta por uma guarnição aberta no jarrete de uma faca
Que la alza por un hojal abierto en el garrón de un cuchillazo
Em plena estupidez sentimental
En plena estupidez sentimental
Em meio a meia tonelada de dor monstruosa
En plena media tonelada de monstruoso dolor
Incompreensível, absurda, balindo, choramingando e boba
Incomprensible, absurdo, balando, plañidera y tonta
Como um besouro que não pensa
Como un escarabajo que no piensa
Enquanto medita lentamente porque dói tanto
Mientras medita lentamente por qué duele tanto
E por que dói a parte de quem ela é, a carne
Y por qué duele qué parte de quien es ella misma, la res
Aberta a um desmembramento atroz por toda parte
Abierta al descuartizamiento atroz por todas partes
Que nunca fez mal e que existiram tantas partes, tão extensas
Que nunca habían dolido y que eran tantas partes, tan extensas
E aquele pastar nunca fez mal
Y que pastando nunca había dolido
Fazer leite, esperma, músculos, crina e couro e chifres vivos
Haciendo leche, esperma, músculos, crin y cuero y cornamenta viva
Que eram a própria vida fluindo para dentro
Que eran la vida misma manando hacia sus adentros
Vibrando ternamente como um Sol quente para dentro
Vibrando tiernamente como un Sol cálido hacia sus adentros
E eles nunca doeram
Y nunca habían dolido
Já está pendurado
Ya está colgada
As patas dianteiras endireitam-se, endurecem
Las patas delanteras se enderezan, se endurecen
E avançam e para cima
Y avanzan hacia adelante y hacia arriba
Implorando e mortalmente rígido
Implorantes y fatalmente rígidas
Arrematado em cascos curtos que há instantes
Rematadas en cortas pezuñas que hace un instante
Amassam o lodo do curral, o estrume de uma centena de outros balidos
Amasaban el barro del corral, el estiércol de otros cien balidos
Dinossauros do século das máquinas, nascidos para morrer de um golpe castanho
Dinosaurios del siglo de las máquinas, nacidos para morir de un marronazo
Agora é carne azul pendurado na geladeira: Uruguai para exportar
Ahora ya es carne azul colgada en la heladera: Uruguay for export
Aquele gado, que morreu de golpe amarronzado, caiu e toda a geladeira estremeceu
Aquella res, que murió de un marronazo, cayó y tembló todo el frigorífico
Aquele outro gado que recebeu o golpe amarronzado na testa cheia
Aquella otra res que recibió el marronazo en plena frente
Dois dedos de espessura, enquanto ele entrou no tubo desconfiado
De dos dedos de espesor, mientras entraba al tubo desconfiando
Porque ali não tinha capim, ele conseguiu entender que tinha outro bife na frente
Porque allí no había pasto, alcanzó a comprender que había otra res delante
Balindo, que o anzol já tava tirando
Balando, que ya se la llevaba el gancho
E ele caiu para trás também, e o cimento tremeu embaixo daqueles ossos
Y cayó detrás, también, y el cemento tembló bajo esos huesos
Aquele outro bife, que se esquivou do brownie e caiu também
Aquella otra res, que esquivó el marronazo y que cayó también
Com um olho quebrado caiu também uma guampa quebrada e desfeita
Con un ojo reventado una guampa partida, deshecha
E a terra tremeu, a marrom tremeu, a marrom tremeu
También cayó y tembló la tierra, tembló el marrón, tembló el marronero
A carne morreu tremendo de dor e medo
La res, murió temblando de dolor y de miedo
De uma grande cor marrom na testa para exportação do Uruguai
De un marronazo en plena frente for export del Uruguay
No topo da água, uma flor branca, luminosa
En la punta del agua, una flor blanca, luminosa
De quinze dólares, torna-se cintilante, incha
De quince dólares, se hace chispa, se abulta
Dissolve-se, goteja entre outras flores menores
Se diluye, chorrea entre otras flores más pequeñas
Chora, sacode, catapulta-a em um jato d'água
Llora, se agita, la catapulta en chorro de agua
E sobe como uma bola no ar
Y sube como bola en el aire
Está sempre nascendo
Está naciendo siempre
Enquanto a água canta naquela fonte da boite
Mientras el agua canta en esa fuente de la boite
Entre aplausos, ao ritmo da orquestra, flor branca suave
Entre aplausitos, al compás de la orquesta, blanda flor blanca
Aguada, nostálgica no ar
Acuosa, nostalgiosa en el aire
Subindo nos aplausos como um apito, fenda, empitonada
Subida en los aplausos como espitada, hendida, empitonada
Ela geme e chora à noite, joga estrelas dançando sob a fumaça
Gime y llora en la noche, tira estrellas bailando bajo el humo
Renasce, chora pelo jato azul-esbranquiçado da fonte
Renace, llora por el chorro azul-blanco de la fuente
Como se fosse uma planta que a levanta -e que não é-
Como si fuera planta que la cría -y que no es-
Entretanto, é assim que continuará a abrir, morrer, inchar e flutuar
Y sin embargo, así seguirá abriéndose, muriendo, hinchándose y flotando
Enquanto durar a noite, sua beleza infantil de engenharia
Mientras dure la noche, su belleza infantil de ingeniería
Seu coração mole sob o bulbo fixo e leitoso
Su blando corazón bajo el foquillo fijo y lechoso
O gringo, o jato d'água a preço
El gringo, el chorro de agua a precio
O ar importado, aquelas mulheres, o noivo, aqueles cavalheiros
El aire de importación, esas hembras, el mozo, esos señores
Já faz muito tempo que estou trabalhando
Hace un buen rato ya que doy trabajo
E me acostumando com o desuso da minha alma
Y vengo acostumbrándome al desuso de mi alma
Com a razão do inimigo, com meus sessenta cigarros por dia
A la razón del enemigo, a mis sesenta cigarrillos diarios
Com os maus hábitos das minhas músicas
A las malas costumbres de mis canciones
Que de alguma forma sempre foram nossas, sabe, violão preto
Que de algún modo siempre fueron nuestras, vos lo sabés, guitarra negra
Hoje eu retomo em um quadrinho endireito a hora de ontem parado em sua saudade
Hoy reanudo en un cómico enderezo la hora de ayer parada en su nostalgia
As asas que coloco para voar me fazem sofrer
Me hacen sufrir las alas que me puse para volar
Mas eu grito e elas sobem, eu gemo e elas me acompanham
Mas grito y se alzan, gimo y me acompañan
Eu rio e elas se batem de dois em dois, como se se amassem e se odiassem
Río y baten de a dos, como que están amándose y se odian
Porém minhas duas asas se odeiam, se endireitam
Sin embargo mis dos alas se odian, se enderezan
Se tornam meus amigos pra me levar pra todo lugar
Se hacen amigas mías para llevarme por todas partes
Tem a música, aqui não tem nada
Allá está la canción, aquí la nada
Além da cidade e mais aqui amor
Más allá el pueblo y más acá el amor
Mas a cidade também é mais aqui
Pero el pueblo está también más acá
E antes era lá também, atrás da cidade as pessoas
Y antes estaba allá también, detrás del pueblo el pueblo
Percorremos todos os meus caprichos e as pessoas enraizando a terra
Hemos viajado por todos mis caprichos y el pueblo hozando el piso
Amando-se com asas como as minhas
Amándose con alas como las mías
Odiando o seu destino, odiando-me e amando-me sem asas
Odiando su destino, odiándome y amándome sin alas
Com milhões de pés, com mãos e cabeças e línguas
Con millones de pies, con manos y cabezas y lenguas
E suas mil bocas dizem: Agora, a sorte já está lançada
Y sus mil bocas dicen: Ahora, la suerte ya está echada
A borboleta vem a mim na rua
La mariposa viene hacia mí en la calle
No ar úmido, no ar úmido dançando
En el aire húmedo, por el aire húmedo bailando
No ar opressor, sinistro, dançando no ar quente
Por el aire agobiante, ominoso, bailando en el aire caliente
E vi que não era eu que ela procurava, mas a morte
Y yo vi que no era a mí a quien buscaba sino a la muerte
E que eu não estava procurando a morte eu também vi
Y que no buscaba la muerte también vi
Porque não era uma borboleta da cidade de ferro
Porque no era mariposa de la cudad de hierro
Nem havia nascido para isso, mas era apenas uma borboleta
Ni nacida para eso, sino que era mariposa nada más
Na cidade, presa e já morta de antemão, fatalmente
En la ciudad, presa y ya muerta de antemano, fatalmente
Procurando Nessa dança louca e frágil uma asa
Buscando en ese bailar loco y frágil un ala
Um grão, uma pitada de pólen no cimento
Un grano, una pizca de polen en el cemento
Porque a borboleta nasce e nada aprende
Porque la mariposa nace y no aprende nada
Até morrer em qualquer lugar
Hasta que muere en cualquier sitio
Mortalmente ferida pela sua semana
Herida de muerte por su semana justa
Pelo seu tempo preciso, por sua vida sórdida já bêbado
Por su tiempo preciso, por su sórbito de vida ya bebida
Isso não é tão triste
Eso no es tan triste
Triste é ver sua cadeia de ovos na fuligem
Triste es ver su cadena de huevos en el hollín
Depositada ao lado de um rio de óleo
Depositados junto a un río de aceite
Na sombra dos altos muros de concreto
A la sombra de las altas paredes de cemento
Seu corrente de ovo de seda
Su cadena de huevos de seda
Estou com saudades
Hago falta
Sinto que a vida fica agitada nervosa se eu não apareço, se não estou
Yo siento que la vida se agita nerviosa si no comparezco, si no estoy
Sinto que há um lugar para mim na fila
Siento que hay un sitio para mí en la fila
Que você vê aquele vazio, que falta um fôlego
Que se ve ese vacío, que hay una respiración que falta
Que eu decepciono espera
Que defraudo una espera
Sinto a tristeza ou a raiva não expressa do companheiro
Siento la tristeza o la ira inexpresada del compañero
O amor de quem me espera, ferido
El amor del que me aguarda lastimado
Meu rosto está faltando no gráfico da aldeia
Falta mi cara en la gráfica del pueblo
Minha voz no slogan, na música, na paixão de caminhar
Mi voz en la consigna, en el canto, en la pasión de andar
Meu pernas na marcha, meus sapatos pisando no pó
Mis piernas en la marcha, mis zapatos hollando el polvo
Meus 7 olhos na contemplação do amanhã
Los 7 ojos míos en la contemplación del mañana
Minhas mãos na bandeira, no martelo, no violão
Mis manos en la bandera, en el martillo, en la guitarra
Minha língua na linguagem de todos
Mi lengua en el idioma de todos
O gesto de meu rosto na profunda preocupação de meus irmãos
El gesto de mi cara en la honda preocupación de mis hermanos
Como vou te levar dentro de mim
Cómo haré para tomarte en mis adentros
Violão, violão preto
Guitarra, guitarra negra
Enrique, meu irmão, diz que tem um certo cachorro afundado
Dice Enrique, mi hermano, que hay cierto perro hundido
Que nos lambe e lambe delicadamente
Que se lame mansamente y nos lame
Se lambendo, uma ferida parada ali no fundo
Lamiéndose una herida quieta allá al fondo
Sentado no seu degrau
Sentado en su escalón
E meu irmão fala mais do outro Enrique, em Praga
Y dice más mi hermano el otro Enrique, en Praga
Diz que amar você com certeza, torná-la inteiramente feminina
Dice que amarte con certeza, hacerte enteramente hembra
Dar-lhe o que minhas urgências
Darte lo que de vida tengan mis urgencias
Têm na vida será amar Jaime cada vez mais
Será amar más y más a Jaime
Amá-lo, mais de verdade
Amarlo, más de veras
Por sua alma, seu próprio cachorro mordendo sob o porrete
Por su alma, su propio perro mordedor bajo el garrote
O cabo, o soco, o saco de estopa, o suporte e o insulto
El cable, el puñetazo, la bolsa de arpillera, el plantón y el insulto
A bochecha esquecida que nem ele nem ninguém colocou bateu
La olvidada mejilla que no ponen ni él ni nadie a golpear
Mas com fome e Rita e José Luis
Sino con hambre y Rita y José Luis
Com Gerardo e Raúl e Rosa e Sara e Mauricio
Con Gerardo y Raúl y Rosa y Sara y Mauricio
E por todos os nossos mortos
Y por todos nuestros muertos
E eu aprendi, violão, que esse outro cachorro que você criou
Y he sabido, guitarra, que este otro perro que criaste
Latindo, camponês, às vezes manso ou vigilante
Ladrador, campesino, a veces manso o vigilante
Que rói o próprio osso no escuro e rosna
Que roe su propio hueso en la penumbra y gruñe
Como quase todo cachorro popular
Cual casi todo perro popular
Percorrerá seus caminhos largos, suas milongas sangrando
Vagará por tus anchas veredas, tus milongas sangrantes
Até morrer também
Hasta morir también
Talvez um dia
Tal vez un día
De solidão e raiva
De soledad y rabia
De ternura
De ternura
Ou de algum amor violento
O de algún violento amor
De amor
De amor
Sem dúvida
Sin duda
Comentários
Envie dúvidas, explicações e curiosidades sobre a letra
Faça parte dessa comunidade
Tire dúvidas sobre idiomas, interaja com outros fãs de Alfredo Zitarrosa e vá além da letra da música.
Conheça o Letras AcademyConfira nosso guia de uso para deixar comentários.
Enviar para a central de dúvidas?
Dúvidas enviadas podem receber respostas de professores e alunos da plataforma.
Fixe este conteúdo com a aula: