O patrão me tirô a alegria
Ao levá minha fia pra ele criá
Prometendo pra meu desengano
Depois de cinco ano torna me entregá

E agora pra lá da portêra
Da ingrata pedrêra, me fais trabaiá
Carregando uma dor no meu peito
Sem tê o direito pra desabafá

Conforme o que a vida nos trais
Não dá jeito d'agente aguentá
Você tem sofrida demais
Peça a Deus pra sua vida ajudá

Cada veis que eu arrancava a foinha
Era um dia di menos pra nóis esperá
Poco a poco arranjei meu ranchinho, fartava um poquinho pra ela chegá

E chegô pra trazer alegria
Lá na casa grande aonde a gente não vai
O patrão enganô a minha fia
Ela nunca sabia que o jeca é seu pai

Conforme o que a vida nos trais
Não dá jeito d'agente aguentá
Você tem sofrida demais
Peça a Deus pra sua vida ajudá

A muié fez um tacho de doce
De abóbra madura e no armário guardô
Esperando com muita alegria
Chegá esse dia que nunca chegô

E eu dando risada amarela
Contá a verdade pra ela eu não quis
Puribiru nóis dois de falá
Que era o pai e a mãe dessa moça feliz

Conforme o que a vida nos trais
Não dá jeito d'agente aguentá
Você tem sofrida demais
Peça a Deus pra sua vida ajudá

Tenho ciúme do beijo e do abraço
Que otrô recebe com satisfação
Esse beijo que o pai merecia
Quem tem todo dia é o ingrato patrão

Mas eu juro pra virgem Maria
Que a minha agonia ainda vai se acabá
Nem que seja preciso eu morrer
Lá pro nosso ranchinho ela tem que vortá

Composição: Elpídio dos Santos