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O Rugir Dos Leilões (Cabo Delgado)

Assane Ramadane João

Letra

    As vilas eram cemitérios sem públicos coveiros
    Com corpos espalhando nas ruas destes baleeiros
    As vivendas eram campas abandonadas
    Por gente que escolheu como matas para morrer
    E as machambas queixavam-se da falta de cha-chas
    Os pássaros irritados pelos cantos que não puderam soar
    E as flores dos tristes campos cheiravam pólvoras

    O direito à vida que me foi tirado sem debates
    Eu vi corpos decepados a catanas não afiadas
    Penetrando em quem apenas ofertava mortes
    Eu vi sonhos esquecidos nas matas do medo
    Quando o rugir dos leões fora dos parques
    Sepultavam os nossos filhos em ataques
    São momentos que jamais nos devolverão sossego

    Eu vi o muito que em pouco tempo a vida mostrou
    Eu vi animais disfarçados em pessoas que o demônio gerou
    As cinzas que outrora chamávamos de casas
    O estrume sangrento que chamávamos de família
    A esperança do desabrochar daquela flor
    Nada sobrou além da dor

    Talvez meu grito não foi suficiente
    Quando o estupro convidou-me a morrer
    Papá eram homens que usaram da sua filha como simples papel higiênico
    O sangue que derretia para atos destes homens bélicos
    Talvez o meu grito não foi suficiente

    Os filhos arrancados do ventre de quem pariu
    A despedida sofrida de quem partiu
    O marido que nem mereceu aquele banho de águas quentes
    Foi-se cheirando sofrença
    Foi-se grávido de perguntas sem respostas
    Foi-se desprovido de chaves para fechar as portas
    Foi- se o sonho que escapou da minha palma
    Gritaram as armas para calarem as almas
    Foi-se Macomia, Mucímbua e Palma

    Talvez o meu grito foi insuficiente
    Usaram o nome de Deus talvez para tornar o pecado santo
    E em nome do meu Deus, em pranto, Apenas grito
    Salvem-nos!

    Enquanto não fizermos uma corrente de esperança
    Teremos um Cabo desligado
    A escuridão vai tirando o norte da nossa gente
    E se não for a morte será cada um a sua sorte
    Nisso, há quem morre a tiro
    Há quem morre por desgosto e há quem morre por ter
    Nada para comer

    Zambézia
    De mãos dadas por Cabo Delgado


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