16 de Fevereiro de 2023, às 15:00
Criado na Nigéria, o Afrobeat honra a história e a cultura da África como nenhum outro estilo musical. É por isso que o estilo é tão popular pelos quatro cantos do continente e, agora, está atravessando o oceano e conquistando novas terras.
Com o fácil acesso a conteúdos de qualquer lugar do mundo, a música africana agrada públicos de diversas nacionalidades.
Além disso, muitos músicos afrodescendentes estão se interessando por essa mistura de ritmos e sons, como um resgate a suas origens.
Confira, a seguir, um guia completo para conhecer o Afrobeat e seus principais artistas:
Enquanto no Brasil nós temos a Música Popular Brasileira, que marcou a nossa história, em grande parte dos países africanos, as pessoas manifestam a sua arte e as suas convicções políticas por meio do Afrobeat.
Conheça agora todos os detalhes sobre o estilo!
Na Nigéria, durante a década de 1960, a ditadura militar tomava conta do país e muitos conflitos se instauraram por lá.
Nesse contexto, os artistas representavam uma das classes mais afetadas, pois eram impedidos de expressar as suas vontades e os seus sentimentos por meio da música, da literatura, do cinema e do teatro.
Um deles foi o cantor e multi instrumentista Fela Kuti. Depois de estudar um tempo na Inglaterra, ele resolveu se aventurar pelos Estados Unidos.
De passagem por Los Angeles, em 1969, ele conheceu a cantora Sandra Izsadore e os dois começaram a trocar influências musicais e ideológicas, principalmente sobre o Partido dos Panteras Negras, do qual ela fazia parte.
De volta ao seu país de origem, o músico colocou em prática tudo o que aprendeu com Sandra e começou a produzir canções em um estilo totalmente diferente dos que os nigerianos estavam acostumados.
Era uma espécie de união entre o tradicional e o novo. Sem falar das temáticas sobre política e sobre a luta pela liberdade de expressão.
A partir desse contato com Sandra e outros artistas americanos, Fela Kuti fez uma mistura de sons e criou o Afrobeat.
Eram vários ritmos tradicionais da África Ocidental, especialmente o iorubá. Ele também incorporou referências do highlife africano, do jazz e do funk americano.
Esse mix está presente em seus 40 álbuns lançados. Todos eles fizeram muito sucesso na Nigéria, em outros países africanos e também nos Estados Unidos. Tanto que James Brown sempre elogiava os seus trabalhos.
Ao lado de outros artistas, ele reunia em seu palco mais de 10 músicos multi instrumentistas e várias dançarinas, com apresentações muito mais longas do que o público estava acostumado na época.
Era uma fusão de talentos, referências e manifestações artísticas, como nunca havia se visto antes.
Hoje, o estilo é utilizado não só para se referir ao ritmo original, mas também para vários outros que surgiram a partir dele, com pegadas mais eletrônicas, criados principalmente em Gana e na Nigéria.
É o caso do afro pop e do afro funk, que estão muito em alta na atualidade.
Apesar de hoje o Afrobeat ser uma grande mistura de ritmos, ele tem algumas características básicas, que o diferem dos outros estilos e definem a sua originalidade.
No geral, as bandas têm sempre um número grande de membros. Antigamente, elas chegavam a ter entre 15 e 20 integrantes, mas hoje existem alguns grupos só de 10 pessoas.
Alguns instrumentos também são essenciais para o estilo: duas guitarras, baixo, bateria, sopros e muita percussão. Sem falar nos backing vocals.
A repetição é uma outra peculiaridade. Os grooves aparecem em looping com frequência, geralmente em toda a música. Além disso, é muito comum que as canções sejam formadas por um só acorde, o que ajuda a manter a ideia de que elas são como mantras da cultura africana.
É por isso que as composições são bastante longas. Na época de Fela Kuti, por exemplo, suas faixas duravam cerca de 15 e às vezes até 25 minutos. Porém, hoje em dia, essa duração já se reduziu também.
Música e política sempre andaram lado a lado e, nesse caso, não poderia ser diferente. Fela Kuti fundou uma casa de resistência contra os regimes totalitários.
Era a “República de Kalakuta”, criada para abrigar amigos, familiares e membros de sua banda.
Com isso, o cantor se tornou um dos maiores símbolos da resistência negra, ao lutar com a sua arma mais poderosa: a arte. Um episódio que marcou a história da Nigéria ocorreu após o lançamento do álbum Zombie, de 1977.
A canção principal era uma dura crítica ao regime ditatorial da época, que comparava os militares com os zumbis:
Essa manifestação não agradou em nada as autoridades e motivou um ataque de mil soldados à República de Kalakuta. Na invasão, várias pessoas ficaram feridas, instrumentos foram destruídos e gravações raras foram queimadas.
Mas a pior ação atingiu o músico diretamente: a sua mãe foi arremessada por uma janela, não resistiu aos ferimentos e acabou falecendo em seguida.
Como resposta, Kuti deixou o caixão da matriarca no principal quartel do Exército e compôs várias músicas sobre a sua dor.
Conheça outros artistas que fizeram e fazem história no estilo:
Falecido em 2020, Tony Allen foi baterista e parceiro de Kuti durante toda a sua carreira e participou de diversos projetos musicais, inclusive no Brasil.
Ouça agora uma das canções em parceria com o trio brasileiro de Jazz Metá Metá, Alakorô:
Seun Kuti é filho caçula de Fela Kuti e, assim como outros herdeiros, seguiu os passos da família. Ele começou com apenas 8 anos, na banda Egypt 80, fundada por seu pai em 1970. Com a morte do líder, Seun assumiu os vocais, aos 15.
O músico já fez várias colaborações com artistas renomados, como Sinead O’Connor. Confira James Brown, uma faixa gravada pela dupla:
Entre 1960 e 1983, a banda Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou explorou, além do Afrobeat, outros ritmos, como o funk e o soukus. Anos depois, no início de 2000, o grupo passou a fazer sucesso além das fronteiras africanas.
Apesar do falecimento de seu líder, Mélomé Clément, em 2012, os demais integrantes continuam a fazer shows pelo mundo e já passaram inclusive por aqui. Vale a pena escutar um de seus hits, Se Ba Ho:
O Brasil não ficou de fora das influências dessa batida africana. O contato ocorreu ainda na década de 1970, com os álbuns Refavela, de Gilberto Gil, e Bicho, de Caetano Veloso, que apresentam várias referências desse estilo.
Eles foram produzidos após uma viagem dos músicos à Nigéria, onde conheceram o próprio Fela Kuti.
Mas isso não é exclusividade de músicos mais antigos. Hoje em dia, existem vários artistas que incorporam a mistura africana a suas canções, como é o caso da cantora IZA, com a música Ginga.
E existem algumas adaptações atuais ao Afrobeat original. A duração das músicas, por exemplo, não é tão longa quanto as originais. Essa redução ajuda o público a curtir mais o som.
Também há várias composições que são exclusivamente instrumentais. Nesses casos, trata-se muito mais de uma homenagem à sonoridade africana do que de uma reprodução fiel do estilo.
Assim como os brasileiros, os americanos também foram influenciados pela originalidade do Afrobeat. Um dos artistas que aplicou a influência em suas músicas é Childish Gambino.
Ficou curioso para saber como ele fez isso? Descubra agora a nossa análise e o significado por trás de This Is America, um de seus maiores sucessos!
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