19 de Março de 2025, às 12:00
Em filmes, séries e apresentações musicais, o ballroom aparece como um movimento divertido e de grande relevância política. Mas você sabe como ele surgiu e o que representa na prática?
Fortemente associado a artistas LGBTQIAPN+ ou aliados ao grupo, o ballroom parte da ideia da liberdade e da expressividade através do corpo.
Além disso, são feitas várias competições com várias categorias para que cada participante possa apresentar aquilo que ele considera a sua maior vantagem. Apesar da busca pela vitória, o ballroom prega, acima de tudo, a força coletiva dos sujeitos.
O ponto de partida do ballroom é apontado no ano de 1849, nos Estados Unidos, mais especificamente no Harlem, bairro que fica no subúrbio de Nova Iorque.
Foi lá que aconteceu o Annual Masquerade and Civic Ball, evento voltado para homens que desejavam se vestir e se apresentar com um visual feminino, muito próximo à arte das drag queens.
Ao longo do tempo, o movimento de afirmação da sexualidade, apesar de buscar incluir sujeitos que eram oprimidos na sociedade, ainda excluía diversos outros corpos, como as pessoas negras e latinas.
A drag queen Crystal Labeija percebeu isso nas competições em que participava. Ela reparou que as vencedoras sempre eram brancas, mesmo quando as negras e latinas se destacavam, evidenciando o racismo no meio.
Ciente disso, ela quis fazer diferente: a sua proposta era iniciar um movimento focado nas pessoas excluídas, as negras e latinas LGBTQIAPN+, buscando confrontar o preconceito que existia até mesmo dentro da comunidade.
Para isso, ela contou com a ajuda de Lottie LaBeija e, assim, aconteceu o “Crystal & Lottie LaBeija presents the first annual House of Labeija Ball”, em 1972, também no Harlem. É o momento em que o ballroom se forma da maneira como o conhecemos hoje em dia.
Ao falar sobre ballroom, é comum que o termo “houses” apareça. As casas, nesse contexto, se referem a uma família que se constrói dentro do movimento, marcada pelo apoio entre os “parentes” e pela ajuda entre si.
As casas são lideradas por um pai ou uma mãe, a pessoa responsável por guiar, aconselhar e cuidar dos seus filhos, garantindo a integridade do grupo.
É importante lembrar, novamente, que o ballroom é composto majoritariamente por pessoas que sofrem diversos preconceitos em sociedade.
Por isso, as casas têm um papel fundamental não apenas de cuidar do emocional, mas também fornecer ajuda material, como um teto para morar, por exemplo, no caso daqueles que são expulsos de suas casas originais.
Os membros de uma casa também compartilham o mesmo sobrenome artístico, como é o caso da LaBeija, casa pela qual passaram Crystal e Lottie LaBeija, drag queens mencionadas anteriormente.
Além de se apoiarem emocional e financeiramente, os membros de uma casa também lutam juntos para ganhar as competições das balls – ou bailes, em tradução livre.
São momentos de celebração, com muita música e animação, marcado também por competições diversas: elas podem ser individuais, em que cada membro representa a sua casa, ou coletivas, como duplas ou trios batalhando juntos.
Para avaliar os melhores de cada categoria, é montada uma bancada de jurados com especialistas em áreas diversas, como moda, desfile na passarela, dança ou até mesmo atuação, quando o desafio requer uma interpretação.
A expressão 10s across the board, inclusive, surge do contexto do ballroom e é um grande elogio. A fala, que em tradução livre significa 10 em todos os níveis, é dita quando uma performance é ovacionada por todos os jurados, levantando notas 10 de todos os profissionais.
O contrário disso é o chop, quando um ou mais jurados corta a apresentação ao meio e o candidato é eliminado da competição por não atender aos requisitos da categoria ou não estar no mesmo nível dos adversários.
Por isso, a ideia central dos balls é vender o seu talento para os jurados, exibindo confiança, elegância e até mesmo arrogância. É um espaço que permite essa liberdade e segurança para corpos marginalizados.
Ao longo dos anos, o ballroom tem ganhado cada vez mais destaque na grande mídia. Apesar de ser uma arte feita principalmente por sujeitos que sofrem diversos preconceitos, é inegável a complexidade do movimento, o que abrilhanta qualquer tipo de produção.
Algumas delas mostram as vivências daqueles que viveram o ballroom e tiveram suas vidas transformadas por ele, como é o caso da série Pose, que mostra na prática o funcionamento das balls e das houses.
Em Paris Is Burning, um dos documentários mais relevantes sobre a cena drag nos Estados Unidos, conhecemos de perto alguns dos nomes mais relevantes do movimento.
O documentário, apesar de ser lindo e importante, mostra como é difícil se livrar dos preconceitos da sociedade, mesmo que você conquiste relevância e excelência no que desempenha.
Ainda assim, Paris Is Burning é sobre resistência e a busca por manter viva uma arte que muitos querem que acabe.
Madonna, considerada a rainha do pop, é considerada uma das maiores aliadas do movimento ballroom ao fazer com que ele ganhasse reconhecimento mundial a partir do lançamento de Vogue, em 1990.
Em um cenário no qual os corpos de pessoas negras, latinas e LGBTQIAPN+ são vistos como algo a ser escondido, Madonna incentivou que eles fossem exibidos com orgulho.
A música é considerada, até os dias atuais, como um dos hinos do ballroom. Mais recentemente, Beyoncé também fez história com o lançamento de Renaissance, álbum que possui diversos elementos do movimento.
Durante a turnê do álbum, a Queen Bey contou com dançarinos especialistas do ramo, como é o caso de Honey Gonzales, da House of Balenciaga, que se apresenta como Honey Balenciaga em homenagem à sua casa.
O ballroom representa muitas coisas, mas acima de tudo fala sobre a liberdade para ser quem você quiser. Celebre o orgulho ouvindo artistas LGBTQIAPN+ sem medo de mostrá-los ao mundo!
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