14 de Novembro de 2019, às 20:00
Para muitos, os Beatles foram a maior banda da história da música. Além de quebrar recordes, inventar e experimentar como nunca tinha sido feito antes, uma característica que marcou o grupo foi a capacidade de criar músicas com diversas sonoridades.
Pra quem não conhece tanto sua obra, pode ser até surpreendente dizer que os Beatles tem uma música de rock super pesada, quase um metal. É o caso de Helter Skelter: uma das canções mais marcantes da banda.
Além da sonoridade surpreendente, a música traz uma carga histórica tensa. E esse é o tema do post de hoje! Vamos te contar um pouco sobre a composição da canção e como ela foi “roubada” como motivação para uma série de assassinatos. 😱 Vem ver!
Quando o The Who lançou a música I Can See For Miles, o vocalista Pete Townshend se referiu à própria canção como a música de rock and roll mais ousada, barulhenta e ridícula que você vai ouvir.
Paul McCartney não concordava com a descrição. Segundo ele, a música era, na verdade, bastante sofisticada e pouco ousada. Tudo isso em uma época em que o próprio Paul era acusado de só escrever músicas lentas e românticas e não conseguir fazer outra coisa.
Essa situação serviu de motivação para que ele compusesse uma música “ridícula”, com muita barulheira e um som bastante caótico.
Lançada em novembro de 1968 no disco White Album, Helter Skelter é considerada uma das músicas icônicas dos Beatles, justamente pela sonoridade diferente. E mais: para alguns, é uma das precursoras do heavy metal.
O problema com relação à música veio em torno de 1969, com a chamada Família Manson.
Na Califórnia, um homem chamado Charles Manson recrutava jovens aparentemente bonzinhos, com bom desempenho escolar, por vezes religiosos, para uma seita, centrada na figura de Manson como uma espécie de divindade.
Dá uma olhada nessa entrevista com ele:
Em uma “fazenda” na cidade, a família realizava rituais, orgias com drogas e começou a se envolver aos poucos em crimes violentíssimos. No meio de tudo isso, Manson acreditava fielmente que o White Album era repleto de mensagens feitas para guiá-lo a uma guerra racial.
Apesar de enxergar significados extremos nas músicas Yer Blues, Piggies e Revolution #9, a canção que norteava a filosofia Manson era Helter Skelter. Segundo ele, a música tratava de uma batalha final na Terra, em que os negros tentariam impor uma soberania aos brancos e a história terminaria em tragédia.
Em entrevista para a Rolling Stone, o serial killer falava que a música estava trazendo a revolução, e que os Beatles sabiam disso, mesmo que inconscientemente.
Segundo os próprios membros da seita, eles enviavam telegramas e cartas constantes para os Beatles, convocando-os para essa tal guerra racial. Nenhum desses telegramas chegou aos músicos.
A outra solução, portanto, seria gravar um álbum para que as pessoas soubessem da revolução. A seita pediu ajuda ao produtor Terry Melcher, que negou e cortou seus laços com Charles Manson.
Pouco tempo depois, o produtor deixou sua antiga casa e o casal Roman Polanski e Sharon Tate se mudaram para a residência.
Em agosto de 1969, a Família Manson invadiu a antiga casa de Melcher e assassinou Sharon, que estava grávida, e os amigos que a atriz hospedava. Para deixar um recado sobre “a revolução”, os criminosos escreveram vários nomes de músicas dos Beatles nas paredes. Uma delas era Helter Skelter.
Esse não foi o único caso que envolveu Manson e os membros de sua seita: eles também assassinaram pessoas desconhecidas e tiraram a vida de Leno LaBianca, presidente de uma rede de supermercados.
Os casos Tate-LaBianca, originalmente entendidos como isolados, se tornaram uma representação clara da maldade de Charles Manson e seus seguidores.
Curiosamente, o próprio Charles Manson não assassinou ninguém, efetivamente. Os homicidas eram sempre seus seguidores, que só o faziam sob comando do líder. Imagina que lavagem cerebral?
No fim de todo o caos, quando a Família já tinha sido julgada e presa, o promotor Vicente Bugliosi relatou o caso inteiro em um livro de 700 páginas, também intitulado Helter Skelter.
Será que existe de fato alguma referência à guerra e ao apocalipse na música?
Para os Beatles, essa associação da canção com os assassinatos foi motivo de muita chateação. Em entrevista para a Rolling Stone em 1970, John Lennon comentou que não fazia ideia do que Helter Skelter tinha a ver com matar pessoas.
Na verdade, a expressão helter skelter se refere a um brinquedo de parques de diversões, que tem uma espiral em torno de uma torre.
Na música, essa comparação com o brinquedo foi usada para falar da ascensão e queda, por exemplo, do Império Romano. Era uma metáfora para o que aconteceu depois do auge do império: um declínio brusco, intenso e caótico. Segundo McCartney, essa foi a imagem que lhe veio à mente quando compôs a canção.
Para completar a vibe, o processo de gravação foi super árduo e desconcertante. Foram tomadas e tomadas, resultando em uma das primeiras versões que tinha mais de 10 minutos de duração.
No dia em que a versão oficial foi gravada, os músicos chegaram a fazer 18 takes em um mesmo dia. Por isso, no fim da música dá pra ouvir Ringo gritando I’ve got blisters on my fingers! (Estou com bolhas nos dedos!). Já imaginou tocar bateria em uma música pesada por 18 takes seguidos?
É claro que uma banda influente e clássica como os Beatles acabou rendendo muita coisa. O grupo mudou a história da música e da sociedade com seus discos icônicos.
Pra quem curte as canções do quarteto, entrar nessa máquina do tempo é uma delícia, né? Por isso, selecionamos algumas músicas solo e em conjunto de Paul, John, George e Ringo. Vem entrar no Universo Beatles!
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