25 de Agosto de 2020, às 12:00
Um nome importantíssimo na música brasileira, Caetano Veloso tem tantas músicas que são clássicos que fica até difícil dizer qual é a maior. Entre as grandes, está Cajuína, lançada em 1982 no álbum Cinema Transcendental.
A canção é poesia pura: tem versos belíssimos, com a mesma rima do início ao fim. Mesmo pra quem não conhece a história por trás de Cajuína, dá pra sentir que é uma canção feita com carinho.
Mas a experiência muda quando sabemos a história por trás da música, que é inspirada em um grande amigo de Caetano. Ficou curioso? Então vem ver:
A história da música começa com o tropicalista piauiense Torquato Neto, fundador da Tropicália ao lado dos maiores nomes do movimento.
Ele estudou com Gilberto Gil, em Salvador, e depois conheceu outras personalidades da cena artística soteropolitana, como Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia.
Era um apaixonado por arte e defendia vários movimentos da contracultura, como o cinema marginal e a poesia concreta.
Foi ele o responsável por escrever o documento que oficializou e divulgou o Tropicalismo para a população comum, para além do círculo dos artistas.
Aos 28 anos, um dia após seu aniversário, Torquato Neto suicidou-se depois de muito sofrer por causa do regime militar e do exílio de seus amigos.
Segundo o próprio Caetano, apesar de ter ficado abalado, a notícia não o fez chorar imediatamente. O cantor sentiu o luto mesmo quando recebeu uma visita de Dr. Heli, pai de Torquato, tempos depois.
Em Teresina, a visita acabou levando Caetano e Dr. Heli à casa da família de Torquato. Aí sim, ele desabou em choro.
E conta: A casa era cheia de fotografias de Torquato nas paredes. Ficamos os dois sozinhos, ele me consolando. (…) E cada coisa que ele fazia eu chorava. Fui para outra cidade do Nordeste e lá escrevi essa música.
Emocionante, né?
Desse relato todo, dá pra entender de onde vem cada trechinho da música. Dá um play e acompanha com a gente:
Existirmos: A que será que se destina?
Caetano abre com uma reflexão, que tem muito a ver com o tipo de raciocínio que a gente faz quando perde alguém.
Na verdade, dá pra ver que a canção não é pra Torquato e sim para Dr. Heli (seu pai), que sofria em luto.
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Quando Caetano conta essa história, lembra que o pai de Torquato trouxe uma rosa pequena do jardim e o entregou, coisa que o emocionou totalmente.
E Dr. Heli é o homem lindo, cheio de doçura, que agora carrega a sina de ter perdido um filho (um menino infeliz).
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
Seguem as reflexões sobre chorar e sofrer naquela situação, pensando que a matéria da vida é fina, frágil e vai embora.
E éramos olharmo-nos, intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina
Assim, Caetano passa do subjetivo ao literal e lembra onde estava: em Teresina, tomando a cajuína (bebida típica, de caju) que Dr. Heli dividia com ele.
Dá pra entender, né? Quando lembramos de um momento muito emocionante, sempre lembramos de detalhes como esse.
Com esse breve relato, o músico repete os versos e reconta a história, como se estivesse a digerindo. A música fica linda desse jeito mesmo, com essas duas estrofes repetidas.
Cajuína é resultado do encontro de dois grandes nomes da Tropicália e o que aconteceu com eles à medida que o tempo foi passando.
O movimento tropicalista foi mega importante pra MPB, envolveu vários nomes icônicos e influenciou muitas bandas que vieram por aí.
Vem conhecer a história da Tropicália, um dos maiores movimentos da música brasileira.
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