22 de Abril de 2020, às 12:00
Uma boa capa de álbum faz diferença, né? É a imagem que representa visualmente o que estamos prestes a ouvir: às vezes, mostra só o artista; às vezes, é uma arte mega abstrata.
A capa de um disco é sempre um assunto interessante, que muitas vezes permite várias interpretações (e até teorias da conspiração!). Afinal de contas, Paul McCartney descalço em Abbey Road quer dizer que ele morreu ou não?
Na MPB, não faltam capas icônicas que ficaram marcadas na história da música brasileira. Principalmente na época da ditadura, às vezes um detalhe ou uma referência menos explícita eram as únicas formas de driblar a censura e passar a mensagem que os artistas queriam.
Por isso, trouxemos 9 histórias interessantes por trás de álbuns da MPB para você saber tudo sobre a capa de discos icônicos. Vem ver!
Selecionamos 9 histórias legais sobre capas de álbuns! Se você conhecer mais alguma, aproveita pra contar pra gente nos comentários 😁
Na icônica capa de Tropicália Ou Panis Et Circenses, os artistas se organizaram em uma espécie de retrato de família, ironizando a “tradicional família brasileira” em plena época da ditadura.
A capa foi uma criação coletiva do grupo. Rita Lee e Guilherme Araújo (empresário e amigo de muitos deles) ajudaram a escolher as roupas para garantir que os tons de verde e amarelo se destacassem.
Já Gil contrariou a ideia de “se vestir como antigamente” e apareceu de jelaba árabe; e aí, todos recortaram papel crepom para montar um cenário, que acabou não funcionando. No fim, usaram o vitral da casa que estavam.
Com essa paródia do retrato tradicional, cada um trouxe uma referência: os Mutantes carregavam guitarras que lembravam sua própria sonoridade moderninha; Tom Zé carregava uma mala nordestina; Gil e Caetano seguravam retratos de quem estava ausente na fotografia.
O resultado ficou meio Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, ao passo que também pode ser entendido como uma referência ao retrato dos modernistas, de 1921 — afinal, o movimento tropicalista se inspirava fortemente nos artistas brasileiros dos anos 20.
A icônica capa do Clube da Esquina faz parte do imaginário de todo mundo, né? Com quase 50 anos de idade, o disco influenciou muita gente e é parte da história de Minas.
A foto dos dois meninos que estampam a capa de Clube da Esquina foi tirada espontaneamente pelo fotógrafo pernambucano Cafi, que viu as crianças à beira da estrada. O curioso é que os garotos — Tonho e Cacau — nem sabiam que eram os personagens de uma capa tão icônica.
Quando procurados pelo jornal Estado de Minas, viram a capa e se espantaram. Eles lembravam da foto, mas não sabiam nem o que era o Clube da Esquina!
Segundo Tonho, o “menino branquinho do disco”, “alguém do carro me gritou e eu sorri. Estava comendo um pedaço de pão que alguém tinha me dado, porque eu estava morrendo de fome, e para variar descalço. Até hoje não gosto muito de usar sapato. Mas nunca soube que estava na capa de um disco. A minha mãe vai ficar até emocionada. A gente nunca teve foto de quando era menino”.
Já em 2019, os dois processaram a dupla Lô e Milton por uso indevido de suas imagens, afinal, foram fotografados sem permissão de seus pais na época.
A capa do quarto disco de Tom Zé, Todos Os Olhos (1973), sempre rendeu grande controvérsia. Por anos, nem o próprio Tom sabia responder: a capa do álbum é uma boca ou um ânus?
O fotógrafo Reinaldo Andrade, responsável pela capa, afirmou que a proposta era de que fosse um ânus mesmo, com uma bolinha de gude. Uma amiga topou a ideia e a sessão fotográfica chegou a ser feita, mas, segundo ele, o resultado ficou muito óbvio e não foi aprovado.
No fim das contas, a foto acabou sendo de uma boca mesmo, com a bolinha. Mas ainda tem gente que jura que é um ânus! Bom, a ideia foi atingida né?
Mostrar determinadas partes do corpo em imagens, na época da ditadura, era escandalizar demais. Na capa de Índia, Gal está de tanga vermelha em uma imagem que mostra só do umbigo pra baixo.
Com colares de contas e uma espécie de saia de palha, a índia trazia tudo que a censura não queria liberar. Pra piorar, na contracapa, Gal mostrava os seios.
Como forma de driblar um pouco a proibição do órgão censor, os discos foram comercializados envoltos em um saco plástico azul.
Criada pelo fotógrafo Antônio Carlos Rodrigues, a capa do disco Secos e Molhados faz uma crítica agressiva em plena ditadura.
Segundo o músico João Ricardo, eles sentaram em cima de tijolos, com a cabeça sobre a mesa com os mantimentos que eles mesmos compraram no supermercado.
A toalha foi improvisada e a mesa tinha sido serrada por eles mesmos, para caber as cabeças. E, assim, ficaram a madrugada toda sentados esperando que a foto ficasse ideal.
O resultado é esse: a banda “oferecendo suas cabeças” para um governo com o qual não concordavam e que os queria mortos. Forte, né?
Dizem que o fotógrafo Ivan Klinger, chamado para fotografar a capa de Verde Que Te Quero Rosa (1977), foi contratado com a condição de fazer “uma capa tão boa quanto o álbum”. O jeitinho de Cartola não ajudava: ele desmarcava várias sessões, porque não gostava muito de ser fotografado.
Quando o prazo já estava apertando e o fotógrafo já tinha sido pressionado pela gravadora, só restou uma opção: ir até a casa de Cartola. Lá, o músico tomava seu cafezinho tranquilo.
Reza a lenda que a esposa de Cartola, Dona Zica, viu o quanto o fotógrafo estava aflito e resolveu ajudar: serviu café aos dois e fez com que Cartola se distraísse um pouco, batendo papo.
A composição de cores foi perfeita: o verde, amarelo, azul e branco brasileiros estavam presentes, além da combinação clássica do café com cigarrinho. Mas a maior sacada estava logo ali, na xícara verde e o pires rosa, bem Mangueira, a cara do álbum.
O resultado foi tão bom que Ney Távora, diretor de arte do disco, não quis nem escrever o nome do álbum na capa. Ficou assim, só a imagem de um Cartola brasileiríssimo, discreto e impassível, tomando um café em sua casa.
Em plena década de 70 e 80, assumir ser LGBTQ+ podia ser extremamente escandaloso. Foi o que aconteceu com Ângela Ro Ro: primeira cantora da MPB a assumir sua orientação sexual, foi notícia em inúmeros jornais, atacada e perseguida pela polícia.
Ainda assim, a cantora conseguiu reagir a isso com humor e acidez: em seu disco Escândalo, ironizou toda a situação ao simular uma capa de jornal, em que o tal “escândalo” era simplesmente a artista sendo ela mesma.
No dia marcado para fazer a foto de capa do disco de Bezerra da Silva, o fotógrafo Wilton Montenegro se surpreendeu com o jornal. Tinha acabado de ler sobre um ladrão que foi crucificado no Rio de Janeiro e pensou: Por que não representar algo assim?
Bezerra topou: para a capa de Eu Não Sou Santo, ele aparece como um Jesus negro crucificado, portando uma arma em cada mão. A capa icônica pode levar a várias interpretações e críticas e foi referência para Marcelo D2 em seu álbum de tributo a Bezerra da Silva.
A capa de Calango (1994), segundo álbum da banda mineira Skank, traz ninguém menos que Lelo Zaneti (o baixista do grupo). Na imagem, o músico está vestido com uma fantasia totalmente reciclável criada pelo artista plástico Ilson Lorca.
A roupa tinha sido idealizada para comemorar a Copa do Mundo e chamou a atenção do empresário, Fernando Furtado. Segundo a banda, a figura é um misto de “pacato cidadão com homem calango”, uma alusão às músicas do disco.
O álbum é bem influenciado pelo reggae, e a imagem da capa lembra um pouco esse reggae brazuca, né?
A música popular brasileira já nos trouxe grandes álbuns, né? São inúmeros artistas que marcaram a nossa música, com composições belíssimas e muitas referências culturais.
Pensando em cantores que já fizeram história, fizemos uma seleção de 15 artistas da MPB que já deixaram seu nome no hall da fama da música popular brasileira. Aproveita pra conferir a nossa lista!
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