23 de Julho de 2024, às 12:00
O compasso da sanfona, da zabumba e do triângulo é o alicerce da história do forró, um ritmo brasileiríssimo que contagia multidões com sua energia irresistível e melodias que não saem da cabeça.
Inicialmente conhecido como “forrobodó”, o gênero surgiu no final do século XIX, nas festas populares do sertão, e se popularizou rapidamente.
Hoje, mais do que um simples ritmo musical, o forró é um patrimônio cultural brasileiro que celebra a alegria, a simplicidade e a rica tradição nordestina, com raízes que se entrelaçam na história do Nordeste e do Brasil que hoje conhecemos. Veja só!
A história do forró começa no coração do Nordeste brasileiro, no final do século XIX, quando eram comuns na região os chamados “bailes populares”.
Esses eventos passaram a ser conhecidos como “forrobodó” ou suas variantes, como “forrobodança” ou “forrobodão”, e animavam as comunidades nordestinas com muita música e dança.
O nome curioso pode ter sido importado da Península Ibérica, mais precisamente da Galícia (Espanha) e norte de Portugal, onde a palavra “forbodó” se referia a um ritmo com golpes de bumbo e pontos monorrítmicos: a base do forró.
Embora a origem exata do nome ainda seja um mistério, o primeiro registro da palavra “forrobodó” data de 1912, em uma peça teatral com direção musical de Chiquinha Gonzaga.
Nas primeiras décadas após o surgimento do ritmo, o forró acabou relativamente limitado às fronteiras geográficas. Era quase impossível ouvir falar em forró se você não estivesse no Nordeste.
O gênero teve um começo tímido, demorando a ganhar outras regiões do Brasil e, até meados da década de 1950, parecia um fenômeno exclusivo entre os nordestinos.
Contudo, a segunda metade do século XX foi marcada pela grande explosão do forró, impulsionada pela migração em massa de trabalhadores do Nordeste para outras regiões do país, especialmente para cidades como Brasília, Rio e São Paulo.
Aos poucos, artistas como Luiz Gonzaga e Marinês começaram a ganhar maior destaque nacional, firmando-se como expoentes do novo ritmo brasileiro.
Entre os anos 1950 e 1970, começaram a pipocar nas grandes cidades brasileiras as chamadas “casas de forró”. Eram espaços dedicados exclusivamente a esse tipo de música e dança.
Aos poucos, o forró ganhou instrumentos mais modernos, como bateria, baixo elétrico e guitarra, e se desdobrou em novas vertentes, como o forró pé-de-serra, o forró elétrico e o forró universitário.
Novos nomes despontaram na cena, como Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino e Genival Lacerda, até hoje listados como grandes compositores do gênero.
Contudo, a ascendente não durou muito. A partir da década de 1980, o forró perdeu o caráter de novidade e precisou se reinventar, ganhando canções com letras de duplo sentido e com o chamado “forró malícia”.
A morte do cantor de forró Luiz Gonzaga, em agosto de 1989, é considerada um divisor de águas, marcando a despedida das origens do ritmo e a chegada de uma nova era, mais moderna.
Os anos 1990 trouxeram todo o poder das novas tecnologias para mudar os rumos da história do forró.
Influências de outros ritmos, como lambada, axé e pop, foram absorvidas pelas principais bandas, que também consolidaram o uso de instrumentos elétricos e reduziram gradualmente a utilização da zabumba.
A sonoridade dos sintetizadores e teclados também foi agregada ao ritmo, dando origem ao chamado forró eletrônico, muito popular especialmente no Ceará.
Porém, do mesmo modo que bandas como Mastruz com Leite “aceleraram” o forró com sua pegada eletrônica, um movimento contrário também surgiu: o forró universitário, uma versão revitalizada do forró pé-de-serra.
Esse movimento, liderado por grupos como Falamansa e Rastapé, recuperou o uso de instrumentos como sanfona, zabumba e triângulo, abrindo mão da estilização moderna dos instrumentos elétricos.
Na virada do milênio, uma nova vertente do forró começou a ganhar forma no interior do Nordeste. Era a pisadinha, que saiu das zonas rurais e pequenas cidades para conquistar sucesso nacional.
A pisadinha utiliza principalmente o teclado para reproduzir os sons tradicionais do forró, de uma maneira mais eletrônica. A abordagem mantém a essência das músicas de forró enquanto incorpora elementos mais modernos.
No final dos anos 2010, outra revolução: o surgimento do piseiro, que também introduziu novos estilos de dança e coreografias. O gênero compassado ganhou repercussão nacional com artistas como Barões da Pisadinha e Zé Vaqueiro.
A base musical do forró consiste em uma mistura de elementos europeus e africanos com um toque brasileiro.
O triângulo já era utilizado em larga escala pelas orquestras europeias desde o século XVII, e o acordeão (sanfona) foi trazido por imigrantes europeus no século XIX. A zabumba, por sua vez, chegou ao Brasil nas mãos de negros escravizados décadas antes.
O forró surgiu utilizando esses três instrumentos como base, mas acabou sofrendo várias mudanças com o passar dos anos, como a adição de guitarra, baixo e bateria – a partir dos anos 1970 – e a “eletronização” dos anos 2000, com teclados e sintetizadores.
Além disso, o ritmo acabou dando origem a outros estilos. É o caso do xote, um dos mais antigos, de origem europeia e cadência suave, com letras sobre temas como amor, o cotidiano e os problemas sociais.
Outro ritmo derivado do forró é o baião, popularizado a partir da década de 1940 pelo lendário Luiz Gonzaga, com pegada mais rápida e animada, rimas afiadas e letras sobre assuntos regionais, como o sertão e a cultura nordestina.
Há, também, o xaxado, que surgiu como uma dança de guerra de passos vigorosos, dançada exclusivamente por homens, com letras que contam histórias de aventura dos cangaceiros. Além de forró-favela, forró de rabeca, coco, rastapé e outros subgêneros.
Além de ser um patrimônio cultural brasileiro que merece ser vivido, valorizado e preservado, o forró também foi o palco que revelou alguns dos maiores nomes da música popular brasileira.
É o caso de Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, que eternizou clássicos como Asa Branca, Marinês, a “Rainha do Forró”, dona de sucessos como Desabafo, Dominguinhos e Jackson do Pandeiro, chamado por muitos de “Rei do Coco”.
Muitas bandas também se firmaram na cena musical, como Mastruz com Leite, Calcinha Preta e Aviões do Forró, e surgiram artistas que mantêm o ritmo em constante modernização, como Solange Almeida, Xand Avião, Jonas Esticado e Wesley Safadão.
A nível global, o forró tem ganhado cada vez mais espaço em países com grande presença de imigrantes brasileiros. Há eventos dedicados ao ritmo nos Estados Unidos, Portugal, Espanha, Alemanha, França e Inglaterra.
Até o Japão está na lista de países apaixonados por forró, com vários festivais dedicados ao ritmo. Como o Japan Forró Festival, que atrai milhares de espectadores e leva um pouco da cultura brasileira para o outro lado do mundo.
Na América Latina, você vai encontrar o chamado “forró argentino”, ou “chamamé”, que tem raízes na cultura gaúcha, e o forró colombiano, conhecido como “vallenato”.
A história do forró é uma celebração da identidade brasileira, sobretudo nordestina, aliada a um ritmo envolvente e a letras que ajudam a contar histórias de vida.
Não deixe de conferir o conteúdo com as melhores frases de forró para conhecer mais a fundo a tradição poética desse gênero tradicionalmente brasileiro!
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