8 de Março de 2023, às 12:00
HYBE, a agência mais lucrativa do atual cenário do k-pop, concluiu a aquisição de parte das ações da SM Entertainment, pioneira do ramo — e isso pode significar grandes mudanças para o que conhecemos da indústria da música pop coreana hoje.
Para entender o que muda, resumimos a grande polêmica por trás dessa aquisição, incluindo brigas familiares, as controvérsias de Lee Soo Man e o posicionamento contrário de executivos da SM, tal como as defesas da HYBE frente ao seu plano de negócios.
Fundada em 1996 por Lee Soo Man, a SM Entertainment é a agência pioneira do k-pop, responsável por artistas de sucesso da primeira à quarta geração do gênero, como H.O.T, BoA, TVXQ, Super Junior, Girls’ Generation, SHINee, f(x), EXO, Red Velvet, NCT e aespa.
Lee foi CEO da casa por muitos anos até renunciar sua posição em 2010, atuando apenas nas divisões de gestão e desenvolvimento artístico desde então. Até o início do ano, Lee Soo Man era o principal acionista da SM, com uma participação de 18,46%.
Descontente com o rumo que a SM Entertainment estava tomando, incluindo planos do atual CEO, seu sobrinho Lee Sung Soo (também conhecido como Chris Lee), em vender 9% das ações para a Kakao, Soo Man resolveu vender suas ações para a HYBE.
A HYBE, por sua vez, é a líder em lucros no atual cenário do k-pop, movimentando bilhões de wons com artistas como BTS e TXT. Nos últimos anos, a HYBE comprou outras grandes empresas como a Pledis (lar do Seventeen), Source Music (casa do Le Sserafim) e KOZ Entertainment (do Zico), além de inaugurar seu próprio novo selo, Ador, que deu vida ao grupo NewJeans.
Agora, foi confirmado que a HYBE adquiriu 14,8% das ações da SM Entertainment. No momento, Soo Man ainda tem 3,6% das ações da SM, mas é esperado que essa participação restante também seja vendida em breve para a HYBE.
Segundo carta divulgada por Park Jiwoon, CEO da HYBE, a agência está alinhada com a sinergia da SM e pretende colaborar para criar no futuro próximo, unindo forças para mostrar uma inovação histórica no cenário global sem deixar de respeitar os valores criativos e legados da SM, tal como apoiar os esforços dos artistas da SM em fazer presença na indústria da música global.
Em sua declaração, Park aponta o interesse do mundo no k-pop e afirma que há a possibilidade para os artistas da SM alcançarem uma base de fãs ainda maior usando o sistema de negócios da HYBE como trampolim, garantindo também a independência da diretoria da SM no gerenciamento de seus próprios grupos.
No entanto, funcionários e executivos da SM não parecem concordar com Park. Em vídeo divulgado no canal oficial da agência, o CFO Jang Cheol Hyuk, da SM, diz que a chegada da HYBE é um plano de “aquisição hostil” e destaca diversos pontos negativos para o futuro da SM.
Através de diversos gráficos mostrados ao longo do vídeo, o atual CFO da SM Entertainment destaca conflito de interesses entre as agências, de modo que a compra de ações só seria positiva para a HYBE.
Dentre os exemplos citados, fala sobre artistas da SM terem de deixar suas plataformas atuais e migrar para o Weverse, além da HYBE se aproveitar do sistema de IPs da SM em vez de continuar usando seu atual sistema terceirizado, o que seria lucrativo para eles. A HYBE também teria parte nos lucros dos times de marketing SM Brand e Dream Team, que hoje são exclusivos da SM.
Outro ponto destacado é a origem do dinheiro para a compra, dado o empréstimo de 1 trilhão de wons feito pela HYBE para financiar as ações de Soo Man e garantir sua participação na SM.
Soo Man, por sua vez, é acusado em um grande escândalo de corrupção que envolve evasão e fraude fiscal, com lucros ilegais que chegariam a meio bilhão de dólares. Para a SM, essa conta e parceria não é racional.
A HYBE pretendia, ainda, comprar até 25% de ações da SM a longo prazo.
No entanto, é importante ressaltar que a HYBE não está comprando a SM Entertainment integralmente, e sim apenas parte de suas ações. Isso não torna a SM Entertainment uma subsidiária da HYBE, como foi com a Pledis e Source Music. Como acionista majoritária, a HYBE teria voto nas assembleias de decisões da SM Entertainment, e não decisão total sobre o futuro da empresa e de seus artistas.
A disputa entre Lee Sung Soo e Lee Soo Man se tornou uma grande polêmica do k-pop e ganhou um tom particularmente pessoal devido aos laços familiares entre o atual e o ex-CEO da SM Entertainment, que são sobrinho e tio.
Sung Soo fez uma série de reivindicações contra seu tio, alegando que o comeback do aespa foi cancelado devido ao envolvimento de Lee Soo Man no grupo, que queria promover mensagens de sustentabilidade na nova música do quarteto.
A faixa acabou sendo descartada por não combinar com o enredo de metaverso do grupo e, supostamente, as integrantes do aespa teriam até chorado ao saber do adiamento de seu comeback.
Sung Soo também disse que Soo Man estava tentando criar uma “Cidade da Música Inteligente” com cassinos, drones e festivais, mas teve a compra de terrenos recusada no exterior. Disse, ainda, que seu tio seria a favor da legalização do uso de maconha.
Frente às acusações, Lee Soo Man disse à emissora JTBC: Eu vi o sobrinho da minha falecida esposa crescer desde os 4 anos. Ele está comigo desde que entrou na SM Entertainment aos 19 anos de idade, trabalhando no gerenciamento de fãs. Ele é um sobrinho gentil que cresceu em uma família com o pai dele, um pastor. Meu coração dói.
Os vídeos divulgados pela SM Entertainment também apontam como seus grupos seriam negativamente afetados pela compra e falam, ainda, em um declínio do k-pop.
Segundo os dados compartilhados pela SM, a HYBE estaria criando um monopólio que é negativo para o k-pop, já que as duas empresas juntas somam 66% de todo o mercado — valor que chega a ser maior ainda em vendas de álbuns/músicas (70%) e produções de eventos (89%).
Em um dos gráficos exibidos no vídeo, a SM também usa preços de ingressos como exemplo, afirmando que desde 2019 os valores de ingressos para shows de artistas da HYBE aumentaram muito, enquanto a SM ainda estaria mantendo valores próximos ao habitual.
Quanto aos artistas, a SM teme que seus grupos e solistas sejam negligenciados pela HYBE que, por já ter seus próprios artistas e subsidiárias, poderia deixar os artistas da SM de lado em termos de diminuição de lançamentos de álbuns e performances, priorizando seus próprios grupos.
Este seria o cronograma de lançamentos da SM Entertainment para 2023, divulgado pela agência em outro vídeo:
A HYBE, no entanto, garante em sua declaração que respeita os artistas da SM e prestará o devido apoio para alavancar suas carreiras com as devidas promoções.
Mesmo com a aquisição de ações da SM Entertainment concluída, a história ainda deve se desenrolar pelos próximos meses, conforme os acionistas da HYBE começarem a frequentar as reuniões.
Porém, a HYBE não é a única que está na disputa para assumir uma participação cada vez maior na SM. No dia 07 de março de 2023, a Kakao lançou uma oferta para comprar até 35% da SM e se tornar a maior acionista da agência pioneira no k-pop.
O valor total da oferta foi de 1,25 trilhão de won (US$ 960 milhões), 150.000 won (US$ 115) por ação. O lance valorizou as ações da SM, que subiram mais de 15%.
A Kakao já possuía cerca de 4,9% das ações da SM, e caso a oferta seja bem-sucedida, irá controlar aproximadamente 40% das ações da agência, causando transtornos para os planos inicias da HYBE em adquirir mais 25% das ações da SM.
Em um comunicado, os principais executivos da SM informaram que ao contrário de Hybe, que busca assumir o controle do Conselho de Administração da SM por meio de uma fusão e aquisição hostil, Kakao respeita a tradição e identidade únicas da SM e garantirá a operação independente da empresa, bem como as atividades contínuas dos artistas da SM.
Com o aumento do custo de aquisição da SM pela concorrência com a Kakao, a HYBE anunciou sua desistência do processo de aquisição para assumir a agência fundada por Lee Soo Man.
O recuo do conglomerado resultou na queda das ações da SM, que despencaram até 22% no dia 13 de março de 2023 — abaixo do preço de oferta da Kakao.
A Kakao e sua unidade de entretenimento continuarão com sua oferta pública para aumentar sua participação na SM até 26 de março e aumentarão a cooperação comercial com HYBE e SM, informou a empresa em um comunicado.
Quanto à HYBE, não há definições sobre a participação atual do conglomerado na SM. A empresa concordou em retirar suas recomendações para a direção interna do conselho da agência, mas mantém as discussões sobre os diretores externos.
Já a SM, informou que respeita a decisão e continuará expandindo os retornos aos acionistas e melhorando os valores corporativos.
Do nascimento do k-pop ao sucesso global de seus artistas, confira tudo que você precisa saber sobre a indústria do k-pop para ficar por dentro dos bastidores da música coreana.
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