27 de Dezembro de 2022, às 12:00
O disco John Wesley Harding, do Bob Dylan, está marcado na história da própria música e na carreira do celebrado ícone do folk.
O álbum chega a seu aniversário de 55 anos, envelhecido como um bom vinho, com letras atemporais e melodias de técnica refinada, flertando com o blues, o rock, o folk e, surpreendentemente, até o country.
Em sinal de ruptura com o trabalho que fez até ali, o cantor deu início a uma nova era em sua carreira, em um interessante contraste com as músicas de Bob Dylan lançadas até o final da década de 1960.
Oitavo disco de estúdio do astro, John Wesley Harding marca o retorno dele à música após um grave acidente de moto e mostra os impactos desse trauma em sua vida, bem como a aproximação do cristianismo e até referências à Bíblia. Vem conhecer um pouco mais dessa obra-prima da música folk!
A história de John Wesley Harding, do Bob Dylan, começa em 1966, quando o músico voltou aos Estados Unidos após uma turnê pela Europa.
Enquanto se preparava para uma nova turnê, dessa vez em solo norte-americano, o artista resolveu dar uma volta para relaxar em sua Triumph Tiger 100, uma motocicleta com 500 cilindradas de potência, pela pacata região de Woodstock.
O resultado do passeio despretensioso foi um grave acidente que quase custou a vida de Dylan. O músico quebrou o pescoço e passou um período no hospital, seguido de uma longa recuperação em casa.
Quando tudo parecia controlado, uma nova tragédia se abateu sobre o artista: a morte de Woody Guthrie, um dos maiores ídolos de Dylan e da música folk.
O baque do trauma pessoal poderia ter levado Dylan ao fundo do poço, mas o destino do astro foi outro: o estúdio.
Apenas duas semanas depois da morte de Woody Guthrie, o músico entrou em um estúdio de Nashville com o produtor Bob Johnston, o baterista Kenneth Buttrey e o baixista Charlie McCoy.
A decisão foi controversa, já que grandes nomes da música investiam em álbuns cada vez mais grandiosos para se destacarem nos turbulentos anos 1960. Mas o bardo Dylan optou por um conjunto comedido, enxuto e mais introspectivo.
O resultado é aquele que a Rolling Stone, a Entertainment Weekly e a Allmusic apontam ser um dos melhores álbuns da história: John Wesley Harding, que vendeu 250 mil cópias só na semana de lançamento.
Para consolidar a impressionante história do álbum John Wesley Harding, Bob Dylan selecionou 12 músicas inspiradas no “Robin Hood” texano John Wesley Hardin, uma das grandes lendas do Velho Oeste dos Estados Unidos.
Confira as faixas do melhor álbum de Bob Dylan!
Bob Dylan garantiu ter escolhido o criminoso texano como protagonista de seu álbum por conta do ritmo. Na balada John Wesley Harding, o que se percebe é um aceno ao saudoso Woody Guthrie, que fez carreira com canções sobre ladrões e andarilhos.
Em As I Went Out One Morning, Dylan conta a história de um homem que se oferece para ajudar uma mulher acorrentada, até que percebe que ela quer mais do que ele pode oferecer e só pode prejudicá-lo, em referência à luta por liberdades civis.
Bob Dylan se inspirou na história de privação e agonia espiritual de Santo Agostinho para escrever I Dreamed I Saw St. Augustine. A faixa esconde referências ao duelo entre bem e mal, sagrado e profano, com um toque de arrogância.
All Along the Watchtower chamou tanto a atenção na época do lançamento que acabou sendo regravada meses depois por Jimi Hendrix. A canção está recheada de referências bíblicas e ressignifica a estrutura musical, começando pela última estrofe.
Inspiração para o nome da banda Judas Priest, The Ballad of Frankie Lee and Judas Priest é uma metáfora à relação de Bob Dylan com o empresário, Al Grossman: um desabafo contra a exaustão por emendar várias turnês seguidas.
Primeira música gravada para John Wesley Harding, Drifter’s Escape canta a fuga de um andarilho enquanto era réu em um julgamento. A música critica o presunçoso juiz que despreza a súplica do réu, em referência religiosa.
Mais um desabafo de Dylan contra o empresário, Dear Landlord alça Al Grossman ao título de senhor feudal, que coloca preço na alma do bardo. Em tom de ameaça, o músico alerta para que seu algoz não o subestime.
I Am a Lonesome Hobo fala sobre a independência e a autonomia que Bob Dylan almeja enquanto artista. A faixa foi considerada uma indireta nada sutil para gravadora, empresário e até a horda de fãs do músico.
Dylan “bebeu” na fonte religiosa para escrever I Pity the Poor Immigrant, que muitos acreditam ser um lembrete do músico para si mesmo. A faixa teria sido inspirada no capítulo 26 do livro Levítico, da Bíblia.
A história de John Wesley Harding, de Bob Dylan, ganha um toque caótico com a confusa The Wicked Messenger. Ela traz um arranjo elaborado e bastante técnico, bem como uma letra que explora muito bem a linguagem poética do bardo.
Romanticamente feliz, Down Along the Cove dá uma guinada na tônica do disco e apresenta um bom e velho suingue ao disco de Dylan. Uma surpresa grata que se impactou com a profundidade das faixas anteriores.
Em aceno à veia country de Dylan, I’ll Be Your Baby Tonight traz o guitarrista Pete Drake ao lado do bardo para contar uma história alegre, leve e agradável aos ouvidos. A faixa é considerada uma prévia do álbum Nashville Skyline, sucessor de Jonh Wesley Harding.
Se você gostou de mergulhar na história de John Wesley Harding, do Bob Dylan, vai gostar ainda mais de conhecer as melhores canções da música folk.
A seleção traz alguns dos maiores nomes do gênero, como os atemporais Johnny Cash e Leonard Cohen, bem como a nova geração, representada por Vance Joy, Beirut e Bon Iver.
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