25 de Junho de 2020, às 12:00
Muito antes de Bob Dylan vencer o Prêmio Nobel por suas letras, o artista foi responsável por influenciar inúmeros outros compositores com seu estilo simples e sincero.
Os próprios Beatles devem muito das suas inspirações a Dylan; por causa dele, as músicas puderam ser mais livres, mais poéticas e metafóricas.
Um dos maiores marcos na carreira de Dylan e na história da música foi a música Like a Rolling Stone, lançada em 1965. A canção tocou milhões de pessoas e foi chamada de a melhor música de todos os tempos pela revista Rolling Stone.
Dylan não discorda completamente: para ele, é a melhor música de sua carreira.
Mas o que é que fez essa canção ser tão icônica e como ela foi composta? Esse é o papo do texto de hoje. Vem ver!
Bob Dylan tinha feito seu início de carreira como aquele músico que compunha as próprias canções, em um estilo mais folk e repleto de protestos.
No meio de uma turnê, de acordo com ele, ele começou a “vomitar” palavras e anotá-las em um papel: virou um texto longo e honesto.
Ainda segundo ele, o resultado foram dez páginas de versos, sem nome ou ordem para se tornarem uma música. Mas os versos how does it feel (qual é a sensação?) se destacavam pra ele, especialmente acompanhados com o piano.
Assim, o artista foi transformando essas palavras em canção, até que surgiu Like a Rolling Stone.
Nesse momento, Dylan foi encontrando um estilo que marcaria várias de suas canções: os versos eram repletos de palavras e cantados rapidamente, como um poema sobre uma base instrumental.
Antes de tudo, não deixe de ouvir a canção:
Ao longo da música, Dylan conta a história da Miss Lonely, uma senhorita que era bastante solitária e jovem. Com a narrativa, descobrimos que ela é uma mulher que se dava bem na vida e andava por uma linha perigosa. Ela sabia, mas preferia ignorar todos que tentavam alertá-la sobre isso.
Aos poucos, percebemos que Miss Lonely agora está na pior situação possível: lutando pela próxima refeição, sem casa e sem ninguém para ajudá-la.
Depois de perder tudo, ela se arrepende de ter desperdiçado a possibilidade de ter uma boa educação e uma boa vida. E tem que negociar com um mystery tramp (um vagabundo misterioso), que muita gente entende como sendo o Diabo, para se salvar.
É nesse ponto que Dylan pergunta:
How does it feel (Qual é a sensação?)
To be on your own (De estar por conta própria?)
With no direction home (Sem um rumo para casa?)
A complete unknown (Uma total desconhecida?)
Like a rolling stone (Como uma pedra rolando?)
Uma curiosidade é que a expressão rollin’ stone (pedra rolante/rolando) vem do ditado a rolling stone gathers no moss, ou seja, uma pedra rolante não acumula musgo.
O termo é usado para caracterizar pessoas que não param em um lugar só e se tornou um símbolo da contracultura hippie: afinal, uma pedra rolante é livre, nômade e aventureira.
Além de ser usada por Dylan e por Muddy Waters, cantor de blues dos anos 30, a expressão ficou famosa por nomear uma das maiores bandas do mundo, os Rolling Stones, e a grande revista norteamericana sobre música, cultura e política.
Já na canção de Dylan, o termo rolling stone não é usado com conotação positiva. Para a história da Miss Lonely, ser uma pedra rolante significa não ter rumo, estar perdida e desamparada.
A narrativa continua, cheia de metáforas e comparações para contar a vida dessa mulher que se perdeu, deslumbrada pelo luxo e negligente com quem sofria de verdade.
Nunca foi confirmado, mas há rumores que a mulher da canção é a socialite Edie Sedgewick, uma das musas de Andy Warhol. Já outras pessoas acreditam que a canção é uma metáfora que Bob Dylan usou para falar de si mesmo; outras, ainda, acham que não foi para ninguém específico.
É uma história bastante triste e Bob Dylan a canta como uma espécie de sermão ou crítica: e aí, como você se sente agora que está no fundo do poço, depois de ser tão superficial?
Inspirando-se em La Bamba, de Richie Valens, Dylan começou a pensar no arranjo da canção. A música começou a ganhar vida no estúdio da Columbia Records, em Nova York, com Dylan nos vocais, na gaita e no violão, acompanhado por baixo, guitarra, piano, órgão e tamborim.
Com seus versos longos e muita coisa pra contar, a história resultou em uma canção de 6 minutos. Isso, por si só, já é um marco para a carreira de Dylan e para a música pop: não era comum ignorar as obrigações comerciais e fazer uma música tão grande, simplesmente porque o artista sentia que precisava.
A gravadora Columbia Records, que lançou o disco, não acreditava muito na canção. Com seis minutos de duração, a música tinha que ocupar dois lados do compacto de 45 RPM na época. Qual a chance de uma música tão grande e densa, do ponto de vista da letra, fazer sucesso nas rádios?
Na verdade, o single estava entre os lançamentos sem data específica, longe de ser prioridade da gravadora. A música só foi lançada depois que Shaun Considine, diretor de novos lançamentos da Columbia, encontrou o disco e levou para casa.
Os produtores não contavam que havia algo de revolucionário em uma música ácida e forte como aquela, mas o sucesso foi quase que instantâneo.
Bruce Springsteen é só um dos vários nomes que se dizem influenciados pela canção: parecia que alguém tinha aberto uma porta para a sua mente. E esse era um dos méritos da canção; mais que uma música, a letra é poesia no papel, mesmo sem qualquer som a acompanhando.
A canção chegou a render um livro, chamado Like a Rolling Stone: Bob Dylan na encruzilhada, escrito por Greil Marcus. São 250 páginas não sobre a carreira de Dylan, mas só sobre a música.
Para pesquisadores, a canção trouxe novos caminhos para a poesia do rock, que até então estava restrita a narrativas de amor ou músicas de protesto.
Afinal de contas, Springsteen estava certo. Com músicas como Like a Rolling Stone, Blowin’ In The Wind e Hurricane, Bob Dylan abriu portas para vários artistas incríveis naquela época e nas décadas seguintes, que fizeram do rock também uma forma de contar histórias.
E ele segue fazendo canções à sua maneira: em 2020, lançou novas histórias como Murder Most Foul, uma faixa de 17 minutos que conta tudo sobre o assassinato de John F. Kennedy, à maneira de Dylan.
Quem mais faria algo assim de uma forma tão original, acompanhada por aquela voz crua e direta?
Vários artistas se inspiraram nesse estilo e vale a pena ler mais sobre os grandes nomes dos anos 60 e 70.
A nossa indicação de hoje é a incrível Janis Joplin, que também tinha um estilo inconfundível e, apesar de ter falecido muito nova, deixou um grande legado no rock e no blues/soul.
Por isso, aproveita pra relembrar as melhores músicas de Janis Joplin!
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