A biografia da cantora Liniker, revelação da música brasileira

Liniker, cantora, compositora e atriz, é uma das figuras mais importantes da música brasileira atual. Confira a trajetória dessa artista revolucionária!

Biografias · Por Érika Freire

10 de Setembro de 2024, às 18:00


Mulher preta, trans e que transborda autenticidade e talento: assim é a biografia da cantora Liniker, uma das maiores revelações da música brasileira atual. Sem dúvida, ela é um dos artistas LGBTQIA+ brasileiros para ouvir com orgulho!

Além de cantar, Liniker é compositora, artista visual e atriz, protagonista da série Manhãs de Setembro, exibida pela Amazon Prime.

Cantora Liniker no clipe de TUDO
Reprodução / YouTube

Em 2015, o Brasil conheceu a sua voz poderosa com a música Zero, através de um clipe no YouTube. A cantora estava ao lado de sua banda, Liniker e os Caramelows, que haviam se unido em uma casa para gravar três faixas.

Não demorou para Zero atrair as primeiras visualizações, chamando a atenção de ouvintes mais exigentes e apaixonados por música brasileira de qualidade.

Ficou curioso para saber mais? Vamos conhecer a seguir a história da cantora Liniker!

Quem é a cantora Liniker?

Liniker de Barros Ferreira Campos nasceu em Araraquara, em julho de 1995. 

Essa canceriana empoderada cresceu em meio a uma família de músicos em que se ouvia muito samba, samba-rock e soul. Com pai ausente, a cantora foi criada pela mãe, que encarou sozinha cuidar de Liniker e seu irmão.

Durante uma apresentação na escola, em homenagem ao Dia das Mães, soltou a voz e notou que podia se desenvolver na música. Porém, havia uma grande barreira: a timidez.

Para tentar contornar a situação, ela decidiu fazer aulas de teatro em 2014, na Escola Livre de Teatro, em Santo André. O teatro ajudou a artista não apenas a se soltar mais, como também desenvolver a sua identidade visual.

Turbante, saia, vestidos, batom, brincos de argola, maquiagem e bigode. Foi através dessa personalidade autêntica que Liniker se apresentou ao Brasil, no clipe da música Zero.

Primeiros passos na música

A cantora começou a sua trajetória na música com a banda Liniker e os Caramelows, formada por amigos do teatro. Eles decidiram juntar alguns trocados que tinham na época, foram para uma casa em Araraquara e gravaram três faixas para o EP Cru.

Zero, Louise du Brésil e Caeu logo viralizaram na internet, atingindo em uma semana 5 milhões de visualizações.

Era uma nova geração de artistas que aparecia para renovar a música brasileira. Alguns comentários no primeiro single lançado, Zero, eram de surpresa com a qualidade, diziam ser poesia pura e desejavam que a banda conquistasse o reconhecimento merecido.

Depois da repercussão positiva do EP na internet, Liniker aproveitou para lançar o primeiro disco, Remonta, em setembro de 2016.

Feito de forma independente, os integrantes conseguiram gravar por conta de um financiamento coletivo. O trabalho teve uma ótima repercussão na imprensa internacional.

Com o talento da banda somado às boas energias emanadas pelos primeiros ouvintes, as primeiras turnês foram acontecendo, e elas ultrapassaram fronteiras: chegaram à Europa, Angola, Estados Unidos e muito mais.

Apresentação histórica no Tiny Desk

Em 2018, Liniker teve outra importante conquista em sua carreira musical: ela se apresentou ao lado dos Caramelows na session do Tiny Desk Concerts.

O programa da rádio National Public Radio ganhou notoriedade pelas apresentações descontraídas que realiza desde 2008. No YouTube, o canal da rádio americana NPR MUSIC passa dos 2 bilhões de visualizações. 

Além de Liniker e os Caramelows, o Tiny Desk Concerts recebeu Seu Jorge e Rodrigo Amarante.

Segundo disco com Liniker e os Caramelows

Em 2019, a cantora lançou o segundo álbum ainda ao lado da banda Liniker e os Caramelows. Intitulado Goela Abaixo, o disco misturou reggae, funk, R&B, MPB e soul e teve uma ótima recepção na mídia especializada.

O trabalho chegou a ser indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa, em 2019.

Primeira artista trans indicada ao Grammy

A 20ª edição do Grammy Latino foi pra lá de especial, uma vez que ficou marcado com Liniker como uma das primeiras artistas trans indicadas da história da premiação.

Ela concorreu com o álbum Goela Abaixo à categoria de Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa, ao lado do grupo As Baías, também formado por trans.

Mesmo que o disco de Liniker não tenha conquistado a estatueta, que ficou com o álbum O Tempo é Agora, de Anavitória, a indicação de uma mulher trans foi um marco para abrir portas para outras artistas.  

Na ocasião, Liniker escreveu em seu Instagram, celebrando a indicação dela e do grupo As Baías:

Três travestis, três mulheres negras, indicadas numa categoria de destaque do Grammy Latino. Cantando em português, produzindo suas próprias histórias e sendo donas dos seus destinos, alimentando a arte, produzindo música nesse Brasil.

Fim da banda e início da carreira solo 

Com o objetivo dos integrantes de se dedicarem a projetos paralelos, a banda Liniker e os Caramelows anunciou a separação no início de 2020

Com isso, a cantora Liniker seguiu carreira solo e lançou seu primeiro trabalho em setembro de 2021, Indigo Borboleta Anil, que trouxe faixas como Baby 95, Psiu, Antes de Tudo, Diz Quanto Custa e Lalange, com a participação de Milton Nascimento.

Descubra o significado de Psiu, sucesso da cantora Liniker

Estreia como atriz 

Depois de muitas conquistas na carreira musical, Liniker deu mais um importante passo em 2021 e estreou como atriz na série Manhãs de Setembro.

Exibida pela Amazon Prime, a série conta a história de Cassandra, uma mulher trans interpretada por Liniker, que precisa se dividir entre a maternidade, o trabalho como motogirl e as apresentações covers nas noites. Isso sem contar a força que precisa ter para lidar com o preconceito.

Importante voz para o movimento LGBTQIA+

No início da carreira, Liniker tinha uma identidade visual andrógina e preferia não se identificar com o gênero masculino ou feminino. Tanto que alguns ainda ficam em dúvida sobre qual é o gênero de Liniker, mas agora já sabemos que devemos nos referir a ela no feminino.

Porém, tudo foi um processo, como ela mesma revelou durante entrevista para a revista Glamour. Tudo mudou quando certa vez ela leu em uma matéria que a identificava como “o cantor”. Isso lhe causou um incômodo e Liniker compreendeu que preferia ser mencionada no feminino, ela. 

Hoje, é uma importante representante da causa trans, uma das porta-vozes de maior destaque. Para ela, falta escuta e espaço para que mais profissionais trans consigam se destacar no mercado.

Primeira travesti a integrar a Academia Brasileira de Cultura

Em um evento marcante para a cultura brasileira, Liniker foi oficialmente empossada como membro da Academia Brasileira de Cultura (ABC). Com essa nomeação, Liniker se torna a primeira artista travesti a fazer parte deste prestigiado grupo cultural.

Durante a cerimônia, Liniker expressou a importância de sua inclusão na academia, destacando as dificuldades enfrentadas por travestis no Brasil.

Estar em pé no Brasil, sendo uma travesti preta, é muito difícil. Ser a primeira vez que uma travesti é empossada na Academia Brasileira de Cultura é muito importante e é fundamental para a cultura do nosso país, que abre esse mapa de diversidade, esse mapa de excelência, porque, sim, somos excelentes, afirmou.

A artista, que agora ocupa a cadeira número 51, anteriormente pertencente à icônica Elza Soares, compartilhou sua emoção nas redes sociais, onde seu post alcançou mais de 200 mil curtidas.

Em suas palavras finais, Liniker agradeceu à sua família, amigos e fãs, e destacou a importância de sua nomeação para futuras gerações. Aqui vemos a história sendo escrita junto a um mar de novas possibilidades que se abrem para tantas pessoas no Brasil. Nós estamos aqui e nós existimos, concluiu.

Primeira artista transgênero brasileira a ganhar um Grammy Latino

Liniker entrou para a história da música ao se tornar a primeira artista transgênero brasileira a receber um Grammy Latino. A premiação reconheceu o talento da cantora na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira com o álbum Indigo Borboleta Anil.

Durante o evento, Liniker subiu ao palco para receber o prêmio e, visivelmente emocionada, fez um discurso em espanhol. Sou uma cantora, compositora, atriz brasileira. Hoje algo histórico acontece na história do meu país. É a primeira vez que uma artista transgênero ganha um Grammy, declarou a artista, que foi aplaudida de pé pelo público presente.

A conquista de Liniker não apenas celebra seu sucesso individual, mas também representa um marco importante para a visibilidade e reconhecimento da comunidade LGBTQIA+ na indústria musical latino-americana.

Após a cerimônia, a cantora recebeu uma enxurrada de felicitações, incluindo uma mensagem do presidente eleito Lula, que expressou seu orgulho pela vitória através de uma publicação no Twitter.

O marco histórico de de CAJU

Liniker atingiu um novo patamar em sua carreira com o álbum CAJU, alcançando mais de 30 milhões de plays em diversas plataformas de streaming.

O álbum, que é o segundo trabalho solo da artista, registrou 6 milhões de audições nas primeiras 24 horas após seu lançamento, demonstrando um sucesso imediato entre o público.

13 das 14 faixas do álbum figuraram no TOP 100 da Apple Music Brasil, e tanto o álbum quanto a faixa título alcançaram o topo do iTunes Brasil em apenas três dias após o lançamento.

Além disso, o single TUDO se destacou alcançando o 1º lugar no Top Viral 50 Brazil e o 3º no Top Viral 50 Global do Spotify, com o clipe da música ultrapassando 1 milhão de visualizações no YouTube.

Em declaração sobre o sucesso do álbum, Liniker expressou sua emoção: Estou muito feliz pelo alcance estratosférico e orgânico que este disco tem conquistado. Isso é muito grande para uma artista independente. Estou muito emocionada pela forma com que todos estão acolhendo esse trabalho.

Além do sucesso nas plataformas de streaming, Liniker também anunciou que está trabalhando em um documentário sobre o processo criativo por trás de CAJU.

O projeto está sendo dirigido pela documentarista baiana Safira Moreira, vencedora recente do Festival de Sundance. O documentário promete oferecer uma visão íntima e detalhada da criação do álbum.

Liniker também revelou planos de lançar produtos temáticos relacionados ao álbum, incluindo um home spray com fragrância de caju e bonés.

Com colaborações de artistas como Lulu Santos, Pabllo Vittar, Anavitória, BaianaSystem e Tropkillaz, CAJU marca uma fase de experimentação e liberdade artística para Liniker, consolidando ainda mais sua posição no cenário musical brasileiro.

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