2 de Fevereiro de 2021, às 12:00
Viva! Viva! Viva a sociedade alternativa. Ainda que você não seja fã de Raul Seixas, provavelmente já ouviu ou até cantou esses versos, mesmo sem saber o que eles significam. Mas o que, afinal de contas, é essa tal de Sociedade Alternativa?
Para quem nunca teve a curiosidade de pesquisar, essa filosofia foi defendida pelo cantor e compositor baiano durante toda a sua vida e inspirou várias de suas composições.
É que ele seguia as ideias do ocultista britânico Aleister Crowley e estava bastante envolvido em suas teorias.
A seguir, você vai saber o que é a Sociedade Alternativa, a origem dessa linha de pensamento e a análise detalhada da música de mesmo nome. Não deixe de conferir!
Até hoje, os próprios defensores da sociedade alternativa não conseguem explicar o seu conceito. Essa também era a posição do Raul Seixas e de outros famosos que a seguiam, como o escritor Paulo Coelho.
No entanto, diante de todas as declarações e produções artísticas que envolvem essa filosofia, é possível perceber que ela trata da liberdade. Assim, em uma forma de organização anarquista, o ser humano seria livre para fazer o que ele bem entendesse.
Mas, para ir mais fundo nessa história, precisamos discutir as suas origens, já que Raul e Coelho não foram os inventores dessa ideologia.
A dupla de artistas brasileiros se inspirou em Aleister Crowley, autor do famoso Livro da Lei e criador da doutrina Thelema. De acordo com ele, o livro foi ditado por um ser chamado Aiwass, em 1904, por uma voz que vinha do lado esquerdo de seu ombro.
Foi nele que Mister Crowley, como era conhecido por seus seguidores, escreveu a lendária frase Faze o que queres, há de ser o todo da lei. Para ele, essa era a regra suprema que deveria reger o mundo, a “liberdade absoluta”, também chamada de “Lei da Thelema”.
É claro que toda essa ideia de anarquia e espírito livre desagradou as autoridades britânicas da época. Tanto que a imprensa local chegou a chamá-lo de “o homem mais perverso do mundo”, “satanista” e “besta 666”.
Apesar de todas as controvérsias, Crowley conquistou inúmeros admiradores, entre anônimos e famosos, como os Beatles e Jimmy Page.
E a Thelema, criada por ele, nada mais é do que a expressão prática dos seus ensinamentos. Além da lei da liberdade, ela também reúne princípios morais e filosóficos, todos de acordo com o pensamento de Crowley e seus seguidores.
Raul Seixas conheceu Paulo Coelho em 1973, ao ler um texto que o escritor havia publicado na revista A Pomba.
Da admiração pela leitura nasceu uma amizade entre os dois, refletida no sucesso das músicas que criaram em conjunto. Algumas delas, inclusive, são as mais ouvidas de Raul Seixas.
Naquela época, Coelho já estava em contato com o thelemita brasileiro Marcelo Ramos Motta. Foi com ele que, na década de 1970, a dupla adquiriu os primeiros materiais sobre ocultismo, misticismo e toda a ideologia envolvendo a Thelema.
Percebendo o entusiasmo dos artistas, Motta ficou motivado a difundir ainda mais o pensamento de Crowley e ainda contribuiu para a composição de algumas canções. Tente Outra Vez, A Maçã e Novo Aeon são algumas delas, todas escritas de acordo com a ideia de liberdade e amor dos thelemitas.
Foi dessa troca de conhecimento e de teorias filosóficas que surgiu a chamada Sociedade Alternativa. Uma forma de organização que preza, acima de tudo, pela liberdade dos seres em suas vivências e relações.
A Sociedade Alternativa foi criada em 1973, no mesmo ano do encontro entre Raul Seixas e Paulo Coelho. O seu registro em cartório aconteceu em 1974, quando ela passou a existir como organização civil.
A sede era o próprio apartamento de Raul, no Rio de Janeiro, mas os seus criadores almejavam muito mais. A ideia era criar uma comunidade em Minas Gerais para os seus seguidores, a Cidade das Estrelas.
No entanto, infelizmente, o cantor e o escritor foram exilados durante a Ditadura Militar e, ao retornarem ao Brasil, dissolveram a Sociedade Alternativa. O documento oficial de dissolução data de 1976.
Apesar disso, ela continua viva entre os fãs de Raul Seixas, do Paulo Coelho e do ocultismo. É por esse motivo que muitos ainda defendem que a Sociedade Alternativa nunca acabou de fato.
Outro aspecto que chama atenção na Sociedade Alternativa é o seu símbolo. É um selo com uma chave no centro, adaptada da Cruz Ansata (ou ankh), um antigo hieróglifo egípcio que representava a vida eterna.
A interpretação é que essa forma de organização social seria uma espécie de chave, capaz de abrir todas as portas da vida de seus adeptos.
Além da imagem, também há a inscrição em latim Imprimatur, que significa imprima-se. Essa era uma forma de autorização da Igreja Católica para as publicações que seguiam os seus preceitos antigamente.
A música Sociedade Alternativa ajudou a popularizar as ideias dessa organização e é até hoje cantada e reproduzida pelos seus seguidores.
Mas não são só eles que curtem e admiram a letra. A maioria dos brasileiros conhece pelo menos um trecho ou sabe cantar alguns versos.
O problema é que muitas pessoas não sabem o significado por trás das mensagens escritas por Raul Seixas e Paulo Coelho. Então, se este é o seu caso, chegou a hora de desvendar todos esses mistérios!
Como já falamos, a letra foi composta como uma forma de exaltação à Sociedade Alternativa e de todas as ideias compartilhadas pelos seus adeptos. Ela também traz uma série de termos que fazem referência ao ocultismo e ao Mister Crowley.
Uma das suas maiores inspirações, inclusive, foi o Liber Oz, um livreto escrito por ele, que Raul costumava recitar uns trechos depois de cantar Sociedade Alternativa em seus shows:
Logo no início da canção, temos a inesquecível frase cantada por Raul: Viva! Viva! Viva a sociedade alternativa. Além disso, há algumas cenas que exemplificam, de maneira cômica, a forma de vida livre proposta pelos alternativos.
Lembra do princípio da “liberdade absoluta”, lá do livro de Crowley? Pois é, ele também está presente na música. Olha só:
Se eu quero e você quer
Tomar banho de chapéu
Ou esperar papai noel
Ou discutir Carlos Gardel
Então vá!
Faz o que tu queres
Pois é tudo da lei!
Da lei!
Entre os trechos do refrão, em que o cantor exalta a Sociedade Alternativa, temos algumas mensagens cheias de significado, que só os verdadeiros entendedores da sua ideologia vão compreender.
O “Novo Aeon”, por exemplo, que aparece na primeira estrofe, é uma referência à nova era prevista por Aleister Crowley. O famoso ocultista também é citado em outros trechos, como: O número 666 chama-se Aleister Crowley.
A Lei de Thelema é outro conceito que é exaltado na letra, nos últimos versos:
Viva! A sociedade alternativa
(A lei de Thelema)
Viva! Viva!
Viva a sociedade alternativa
(A lei do forte
Essa é a nossa lei e a alegria do mundo)
Viu o quanto Sociedade Alternativa é cheia de história e de mensagens subliminares? Assim como ela, outras canções do Raul Seixas são famosas pelos significados ocultos.
Por isso, que tal mergulhar nesse universo e conhecer agora o significado de outras músicas do Raul Seixas?
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