6 de Agosto de 2020, às 19:00
No grande elenco de cantoras brasileiras antigas que fizeram história, o principal nome é o de Chiquinha Gonzaga. A pianista, compositora e maestrina revolucionou a música brasileira, sendo autora da primeira marchinha de carnaval e a primeira mulher a conduzir uma orquestra no Brasil.
À frente do seu tempo, Chiquinha Gonzaga quebrou tabus tanto na esfera profissional quanto pessoal: ousou abandonar um casamento para se dedicar à música, defendeu a música popular e organizou a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais ao lado do seu último companheiro, quase 40 anos mais jovem.
Vem saber mais sobre quem foi Chiquinha Gonzaga e conhecer a história fascinante dessa artista pioneira!
Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro em 17 de outubro de 1847. Mestiça, era filha de Rosa de Lima Maria, uma mulher negra escravizada alforriada, e José Basileu Neves Gonzaga, marechal do Exército Imperial.
Embora a família de seu pai fosse contra a união, eles acabaram se casando após o nascimento de Chiquinha.
Ainda na infância, a artista começou a ter aulas de piano com o maestro Elias Álvares Lobo e, aos 11 anos de idade, escreveu sua primeira canção, a natalina Canção dos Pastores.
Devido à sua ascendência africana, ela também teve contato desde cedo com ritmos populares como o lundu e a umbigada.
Aos 16 anos, ela foi obrigada a se casar com Jacinto Ribeiro do Amaral, um oficial da Marinha Imperial que também atuava como empresário. Do casamento nasceram seus três primeiros filhos: João Gualberto, Maria do Patrocínio e Hilário.
Com a necessidade do marido de servir embarcado, a família se mudou para o navio São Paulo, onde Chiquinha conheceu a solidão: desdenhoso das origens negras da esposa e desaprovando seu talento para a música, Jacinto a desprezava e a proibiu de tocar.
Assim, a artista tomou uma decisão corajosa para a época e decidiu separar-se do marido para se dedicar à carreira na música. Conta-se que ela teria dito a ele: pois, senhor meu marido, eu não entendo a vida sem harmonia.
Como era de se esperar, a separação foi um grande escândalo e Chiquinha foi obrigada a deixar os dois filhos mais novos com o pai.
Para se manter, ela passou a oferecer aulas de piano e a frequentar as rodas de choro, se apresentando em bailes com o grupo Choro Carioca. Foi a primeira mulher a compor um choro no Brasil.
Algum tempo depois, a artista se casou com uma paixão de juventude, o engenheiro João Batista de Carvalho. Do relacionamento nasceu sua quarta criança, Alice Maria, mas a infidelidade do marido fez com que a relação cheguasse ao fim.
Mais uma vez, a pianista foi obrigada a deixar sua filha pra trás. Com a falta de apoio da família e a perda da guarda dos filhos, Chiquinha Gonzaga passou a se voltar cada vez mais para a música.
Contrariando o conservadorismo da época, a partir de 1877 Chiquinha Gonzaga se tornou uma das primeiras mulheres a viver profissionalmente de música no Brasil.
Com a mentoria do pianista português Arthur Napoleão dos Santos, que a ajudou a melhorar sua técnica de piano, sua carreira deslanchou e rendeu a ela um feito inédito: a primeira regência.
O evento histórico aconteceu em janeiro de 1885, quando a artista conduziu uma orquestra pela primeira vez no teatro com a opereta A Corte na Roça. O fato foi tão surpreendente que a imprensa brasileira não sabia como se referir a ela, uma vez que não existia a palavra maestrina.
Como quebrar tabus era o que Chiquinha Gonzaga fazia de melhor, ela não parou por aí: quatro anos depois, a maestrina conduziu uma orquestra de violões, instrumentos que a elite brasileira considerava inferiores por estarem associados aos ritmos populares.
Em sua produtiva carreira musical, a compositora escreveu 77 peças de teatro de variados gêneros e 2 mil canções populares. Sua consagração aconteceu em 1899, quando Chiquinha Gonzaga compôs Ó Abre Alas, a primeira marchinha de carnaval brasileira com letra.
Lançada já no final do século XIX, a música é um clássico que até hoje embala blocos e bailes de carnaval pelo país.
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Não foram apenas os divórcios e o pioneirismo musical que marcaram a vida de Chiquinha Gonzaga como uma das principais desafiadoras dos padrões conservadores de sua época.
Filha de uma negra escravizada, sua convivência com as camadas populares fez com que ela desenvolvesse uma consciência social desde cedo.
Declarou-se publicamente como abolicionista e republicana, chegando a vender partituras para ajudar na arrecadação de fundos da Confederação Abolicionista e comprando a liberdade de José Flauta, um de seus músicos.
Aos 52 anos, a artista conheceu João Batista Fernandes Lage, um português de 16 anos a quem dava aulas de piano.
Os dois passam a viver um relacionamento amoroso escondido: para fugir do escândalo público, Chiquinha Gonzaga adotou o rapaz e os dois se mudaram para Portugal, onde viveram entre os anos de 1902 e 1910.
Ao retornarem ao Brasil, o casal fundou a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, criada para defender os interesses e direitos autorais de autores e compositores de peças de teatro.
O romance permaneceu em segredo até o fim da vida: em 28 de fevereiro de 1935, Chiquinha Gonzaga morreu ao lado de seu companheiro, aos 87 anos.
Considerada como uma das primeiras compositoras populares do Brasil, Chiquinha Gonzaga soube aliar a erudição do piano aos ritmos de massa, compondo milhares de músicas de gêneros variados como choros, valsas, polcas, quadrilhas, fados, serenatas, maxixes, lundus, tangos e mazurcas.
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Dentre as suas principais composições estão as canções Atraente, sua primeira música de sucesso, o maxixe Corta-Jaca, tocada pela primeira-dama Nair de Teffé em um recital do presidente Hermes da Fonseca, e a já citada Ó Abre Alas, um dos hinos do carnaval.
Gostou de conhecer a biografia de Chiquinha Gonzaga? Então aproveita e vem conferir outras grandes mulheres na música e saiba quem são as cantoras que fortaleceram o cenário musical!
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