Análise do samba-enredo da Gaviões da Fiel para o Carnaval 2025

Conheça Irin Ajó Emi Ojisé (ou A Viagem do Espírito Mensageiro), samba-enredo da Gaviões da Fiel para 2025!

Analisando letras · Por Ana Paula Marques

17 de Fevereiro de 2025, às 12:00


Quer saber tudo sobre o samba-enredo da Gaviões da Fiel para 2025? Confira em detalhes a análise da apostas de uma das principais escolas de samba de São Paulo! 

samba-enredo da Gaviões da Fiel para 2025
Créditos: Divulgação

Desenvolvido pelos carnavalescos Rayner Pereira e Júlio Poloni, Irin Ajó Emi Ojisé (ou A Viagem do Espírito Mensageiro) tem como fio condutor os rituais africanos que utilizam máscaras, elementos repletos de significados espirituais e sociais. 

Será a primeira vez em quase 60 anos que a agremiação levará ao Anhembi um enredo 100% afro, e neste artigo você vai ficar por dentro do assunto. Boa leitura!

Gaviões da Fiel 2025: análise do samba-enredo

A Gaviões da Fiel prepara um desfile histórico para o Carnaval 2025, trazendo para a avenida um enredo inteiramente dedicado à cultura africana

Irin Ajó Emi Ojisé mergulha nos rituais com máscaras, elementos que simbolizam a diversidade e a ancestralidade dos povos africanos, para contar a história dessas expressões culturais, desde tempos ancestrais até um futuro moldado pelo imaginário.

As máscaras transcendem a mera ornamentação na cultura afro, muitas vezes despontando como portadoras de histórias, tradições e saberes ancestrais, estabelecendo um elo entre os vivos e os espíritos, entre o presente e o passado

No enredo concebido pelos carnavalescos Rayner Pereira e Júlio Poloni, essa simbologia se torna o fio condutor de uma narrativa que exalta a diversidade étnica do continente africano e sua influência no imaginário cultural do Brasil. 

A abordagem resgata a importância dos rituais mascarados e também os insere no contexto do Carnaval paulistano, ampliando o diálogo entre diferentes expressões da arte e da resistência negra. 

As muitas facetas das máscaras nas sociedades africanas

Ao longo dos séculos, as máscaras desempenharam funções distintas nas sociedades africanas, sendo utilizadas em ritos de passagem, celebrações e cerimônias de conexão espiritual. 

Cada etnia imprime em suas máscaras um código próprio de significados, transmitindo ensinamentos, honrando ancestrais ou demarcando posições de liderança. 

Esses objetos sagrados também permitem que o portador assuma uma nova identidade ou dialogue com forças invisíveis, uma riqueza cultural resgatada com sensibilidade pelo enredo, valorizando a herança deixada pelos povos africanos no Brasil

Como a Gaviões leva o tema para o Anhembi?

O Carnaval, desde suas origens, foi um espaço de expressão para os afrodescendentes, que transformaram a dor da diáspora em uma celebração de sua cultura. 

As escolas de samba paulistanas, formadas por comunidades que trazem em suas raízes a força da ancestralidade africana, encontram na avenida um palco para reafirmar sua história e exaltar sua arte. 

O enredo promove um mergulho profundo nas raízes africanas do samba, reforçando a conexão entre passado e presente ao transcender o espetáculo visual e se tornar um manifesto cultural. 

O enredo convida o público a refletir sobre a riqueza das tradições africanas e sua permanência na identidade brasileira, ressignificando a avenida do samba como um espaço de resistência e celebração da diversidade. 

No compasso das baterias e no brilho das fantasias, as máscaras ganham vida, contando histórias de luta, fé e pertencimento, com toda a força cultural da principal torcida organizada do Corinthians.

Análise da letra do samba-enredo da Gaviões da Fiel em 2025

O samba-enredo Irin Ajó Emi Ojisé – A Viagem do Espírito Mensageiro mergulha na ancestralidade africana para construir uma narrativa rica e poética. 

A obra foi composta por um time muito talentoso: Grandão, Sukata, José Rifai, Ovelha JB, Juliano, Guga Pacheco, Gabriel Lima, Japa Mooca, Wesley, Morganti, Andrezinho, B. Cardoso, Gladzik, Renne Rocha e Dentinho do Morro.

A escolha do título em iorubá já antecipa a profundidade da obra, representando um conceito que remete ao trânsito entre o mundo terreno (Ayê) e o mundo espiritual (Orun), temas centrais na cosmologia africana e nas religiões de matriz afro-brasileira.

A letra traz uma fusão entre a mitologia dos orixás, a tradição oral africana e a história do povo negro, desenhando-se como uma jornada espiritual, com um protagonista que transita entre tempos e espaços sagrados, carregando consigo a sabedoria ancestral.

O caminheiro e a mensagem de Orunmilá

O enredo começa com a voz do protagonista, que se apresenta como Emi caminheiro, fiel mensageiro, ou seja, um espírito que atravessa dimensões e tempos, guiado por Orunmilá, o orixá da sabedoria e do destino. 

Me fiz Emi caminheiro

Fiel mensageiro

Orunmilá eu sou

Chamei o senhor do itinerário

E vesti meu ideário

Na poeira, se alastrou

Logo eu, que forjei o amanhã

Orunmilá é aquele que detém o conhecimento do passado, presente e futuro, como um portador de ensinamentos sagrados. A poeira que “se alastrou” é interpretada como a propagação dos saberes pelo tempo e espaço, um elo entre o mundo material e o divino.

Na sequência, a referência à floresta de Nanã, mascarado a dançar remete aos rituais de Nanã Buruku, uma das orixás mais antigas do panteão iorubá, associada à lama primitiva, à ancestralidade e à morte como passagem. 

Na floresta de Nanã, mascarado a dançar

Assentei meu saber na sua fé

No ayê de Gueledé

No feitiço de Iyá

O uso da máscara evoca os ritos do Egungun, culto aos ancestrais masculinos, e do Gueledé, manifestação cultural das mulheres iorubás, que utilizam máscaras para celebrar a maternidade e o poder feminino.

Xangô e a justiça de Oyó

A canção também se aprofunda na história do Império de Oyó, um dos mais poderosos da África Ocidental.

Quando Alafin bradou a justiça de Oyó

Alujá roncou axé, no inimigo deu um nó

No palácio de Xangô, Egungun rodopiou

Ebomim girou a saia, ayeye de yaô

O trecho acima está se referindo ao Alafin, título do rei de Oyó, que governava sob a proteção de Xangô, orixá da justiça e dos trovões.

O ritmo Alujá, por sua vez, é um símbolo de força e poder, e a sequência reforça a presença dos ancestrais nas decisões do império. O trecho também faz alusão às cerimônias de iniciação de novas sacerdotisas: Ebomim girou a saia, ayeye de yaô.

A travessia forçada e a resiliência afro-brasileira

O samba, então, muda de tom para abordar um dos capítulos mais dolorosos da diáspora africana: a escravidão. O enredo remete à cultura africana antes da colonização, enquanto denuncia a desumanização dos povos africanos no comércio de escravizados.

Nas aldeias de marfim, os sagrados rituais

Pelos nossos ancestrais, uma África em fúria

Um produto no mercado, o destino separado

Mas a lágrima de dor se transforma em bravura

Contudo, a canção transforma a dor em resistência, em uma virada que reafirma a luta e a resiliência dos descendentes africanos, que mantiveram suas tradições vivas mesmo diante das adversidades.

Aos nosso filhos, herdeiros de Luanda

De Angola e Matamba, chama de Aluvaiá

Sou a revolta que não teme a demanda

Liberdade em Aruanda é palavra deferida

Levo o axé dos meus ensinamentos

Pro futuro que se preza

Hoje a profecia é cumprida

Caia na folia e na nostalgia com clássicos do Carnaval

Agora que você já conferiu a análise do samba-enredo da Gaviões da Fiel em 2025, caia na nostalgia com o conteúdo exclusivo que preparamos sobre as melhores músicas de Carnaval de todos os tempos!

Você vai relembrar hits que extrapolaram os limites da folia, incluindo sucessos de Chiclete com Banana, Ivete Sangalo, Léo Santana e muito mais!

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