9 de Fevereiro de 2025, às 12:00
O samba-enredo da Viradouro em 2025 celebra uma figura histórica e mítica no Nordeste brasileiro, o Malunguinho. Líder quilombola, ele também é considerado uma entidade espiritual, que simboliza a luta contra a opressão e a tirania.
Campeão do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro de 2024, a Unidos da Viradouro chega em 2025 com o samba-enredo Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos. Um verdadeiro canto de cura e libertação, que exalta elementos para compreendermos a essência do povo brasileiro, em especial o nordestino.
Saiba tudo sobre o samba-enredo da Viradouro 2025 com a nossa análise completa a seguir e prepare a sua torcida.
O samba-enredo da Viradouro em 2025 foi escolhido no dia 14 de outubro, em evento que elegeu a parceria entre Paulo César Feital, Inácio Rios, Marcio Andre Filho, Vitor Lajas, Vaguinho, Chanel e Igor Federal.
O enredo Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos foi desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. A ideia é celebrar a figura de João Batista, conhecido como Malunguinho, entidade afro-indígena reconhecida como Caboclo, Mestre e Exu/Trunqueiro.
Zanon ficou inspirado pelo misticismo e pela devoção em torno de Malunguinho em Pernambuco. Tanto que a sua história surgiu no século XIX e permanece viva até hoje no imaginário popular da região.
Considerando essa ligação estreita entre o samba-enredo e Pernambuco, a arte de 2025 da Unidos da Viradouro ficará por conta de um artista pernambucano, escolhido por um concurso cultural desenvolvido em parceria com a Secretaria de Educação do estado.
Assim, toda a comunidade poderá participar desse processo de decisão e a cultura de origem de Malunguinho será honrada no desfile da escola de samba.
O samba-enredo da Viradouro 2025, Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos, foi escrita pelo sambista João Gustavo Melo. Na letra, Malunguinho é representado como um caboclo, uma entidade das matas. Ele simboliza a revolta dos oprimidos e a proteção daqueles que buscam a justiça acima de tudo.
Acenda tudo que for de acender
Deixa a fumaça entrar
Sobô Nirê Mafá, Sobô Nirê
Evoco, desperto
Nação coroada
Não temo o inimigo
Galopo na estrada
A noite é abrigo
Transbordo a revolta dos mais oprimidos
Eu sou caboclo da Mata do Catucá
Eu sou pavor contra a tirania
Das matas o encantado
Cachimbo, já foi facão amolado
Salve a raiz do Juremá
Logo na primeira estrofe, a entidade é evocada, pela saudação: “Sobô Nirê Mafá”. Ela é chamada para abençoar este canto de exaltação e revolução dos grupos mais oprimidos da sociedade.
Em seguida, outras expressões e palavras evocam Malunguinho na música. A Mata do Catucá, por exemplo, é uma região localizada no estado de Pernambuco, perto de Recife, onde existia um quilombo no século XIX, liderado por ele.
Há também a menção a Juremá, uma planta sagrada, nativa do Nordeste brasileiro. Com a sua raiz são fabricados banhos e rituais com poder de cura.
Ao longo de todo o samba-enredo da Viradouro em 2025, muitas outras palavras e expressões afro-brasileiras são exploradas. O “catiço” nos remete a uma figura de proteção e resistência que, com pureza de espírito, sustenta Malunguinho, o guardião da cultura e da ancestralidade.
Ê juremeiro, curandeiro oh
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da Jurema
Não mexe comigo não
O “kaô” é a saudação do orixá Xangô na umbanda e o “alujá” é o toque para evocar Malunguinho, com um som mais rápido, não cadenciado. O “coco de gira” é uma manifestação de dança e ritmo do Nordeste. Todos esses elementos reforçam a importância da cultura popular e ancestral na luta pela liberdade.
Além disso, o samba-enredo também propõe uma discussão sobre a dualidade entre a vida e a morte, o céu e o inferno e a proteção espiritual que guia todas as pessoas em suas jornadas por justiça e paz.
Entre a vida e a morte, encantarias
Nas veredas da encruza, proteção
O estandarte da sorte é quem me guia
Alumia minha procissão
No parlamento das tramas
Para os quilombos modernos
A quem do mal se proclama
Levo do céu pro inferno
Toca o alujá ligeiro
Tem coco de gira pra ser invocado, kaô, consagrado
Reis Malunguinho encarnado
Pernambucano mensageiro bravio
Um dos versos mais impactantes do samba-enredo da Viradouro em 2025 é “O rei da mata que mata quem mata o Brasil”.
A sua simbologia vai além do próprio poder de Malunguinho no imaginário nordestino, mas também na luta contra todos os males que podem devastar o país na atualidade, principalmente os mais pobres.
Malunguinho é retratado como um “guerreiro bravio”, capaz de desafiar a opressão e defender os quilombos modernos, que resistem e persistem no reconhecimento dos seus direitos enquanto cidadãos brasileiros.
A chave do cativeiro
Virado no Exu trunqueiro
Viradouro é catimbó
Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado
Fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só
O trunqueiro é uma entidade que trabalha nas mais variadas funções, como a defesa das moradias, e o catimbó é um conjunto de crenças e atividades religiosas que usa a fumaça dos cachimbos para trazer conexão espiritual.
No verso final, Fechado tenho meu corpo, porque nunca ando só, o “corpo fechado” simboliza um corpo que não é vulnerável aos males do mundo. Essa é uma expressão bastante popular e que aparece com frequência em rituais e textos das religiões de matrizes africanas.
Por fim, ao trazer para o Carnaval de 2025 uma celebração de uma das figuras mais importantes da cultura afro-indígena do Brasil, a Viradouro reforça que a ancestralidade e a conexão com o passado são fundamentais para manter vivas as tradições de um povo.
Agora que você já está preparando a torcida para o samba-enredo da Viradouro em 2025, que tal voltar ao passado e relembrar as principais músicas que se tornaram verdadeiros clássicos do Carnaval?
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