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Romance de D. Mariana

Brigada Victor Jara

Letra

    Fiz uma aposta, senhores
    Ou de perder ou de ganhar
    Dormir com D. Mariana
    Ai, filha do Conde Real

    Não apostes, ó meu filho
    Ai, que tu não hás de ganhar
    Dona Mariana é muito séria
    Ai, de ti não se deixa enganar

    Vestiu-se em traje de donzília
    E tratou de caminhar
    Chegando ao meio da praia
    Ai, começou a passear

    Que donzília é aquela
    Ai, que anda além a passear?
    Ai, eu sou donzília, senhora
    Ai, eu sou donzília do mar

    Tenho a minha teia urdida
    Ai, fiado venho buscarte
    Avie-me lá, ó senhora
    Ou trate de me aviar

    Que o caminho é muito longe
    Não me posso demorar
    Ai, pode vir algum mocito
    Ai, que de mim queira zombar

    Que donzílias fora de horas
    Não é bonito andar
    Cala-te aí, ó donzília
    Não te estejas a difamar

    Cala-te aí, ó donzília
    Ai, que ao meu quarto virás ficar
    Lá pela noite adiante
    Dona Mariana quis gritar

    Cala-te, Dona Mariana
    Não te estejas a difamar
    Que eu não sou donzília nenhuma
    Ai, sou D. Carlos d’Além-Mar

    Só te peço, ó D. Carlos
    Que à praça não te vás gabar
    Ai, se o meu pai vem a saber
    Ele me mandará matar

    Ele logo no noutro dia
    À praça se foi gabar
    Dormi esta noite cuma menina
    Ai, tão branquinha como um cristal

    Era Dona Mariana
    Ai, filha do Conde Real
    Seu irmão, que isto ouviu
    A seu pai veio logo contar

    Mande matar Mariana
    Ai, que se deixou enganar
    Confessa-te, ó Mariana
    Ai, ou trata de te confessar

    Ai, amanhã por esta hora
    Ai, o sino há-de dobrar
    Não haverá algum ganhão
    Que o meu pão queira ganhar

    Ir levar uma cartinha
    Ai, ao D. Carlos d’Além-Mar?
    Desceu um anjo do Céu à Terra
    Escreva lá, minha menina

    Ai, ou depressa ou devagar
    Caminho que se anda em trinta dias
    Numa hora se há-de andar
    Se ele estiver almoçando

    Deixe-o acabar de almoçar
    Se ele andar passeando
    Vai-la logo entregar

    Ó D. Carlos, ó D. Carlos
    Ó D. Carlos d’Além-Mar
    Uma menina que vós teis
    Não a deixes mandar matar

    Não tenho menina nenhuma
    Ai, que eu deixe mandar matar
    Só se é Dona Mariana
    Ai, filha do conde Real

    Pois é mesmo essa menina
    Que vai amanhã a enforcar
    Alto, alto, ó meus criados
    Os que estão ao meu mandado

    Vão ferrar os meus cavalos
    Do bronze mais alastrado
    Do bronze mais alastrado
    Que até a calçada há-de estalar

    Caminho que se anda em trinta dias
    Numa hora se há-de andar
    Vestiu-se em traje de frade
    E tratou de caminhar

    Chegando lá mais adiante
    Ai, a justiça encontrara
    Arreda, ó justiça, arreda
    Ou trata de te arredar

    A menina que aí levam
    Ela vai por confessar
    No princípio da confissão
    Um abraço lhe quis dar

    Arreda-te, ó frade, arreda
    Ou trata de te arredar
    Onde D. Carlos pôs os braços
    Ai, não é pra’ra frades abraçar

    Lá no meio da confissão
    Um beijinho lhe quis dar
    Arreda-te, ó frade, arreda
    Ou trata de te arredar

    Onde D. Carlos pôs os lábios
    Não é pra frades beijar
    Cala-te, Dona Mariana
    Não te estejas a difamar

    Que eu não sou frade nenhum
    Ai, sou D. Carlos d’Além-Mar
    Monta-te naquela liteira
    Ai, tratemos de caminhar

    Chegaremos ao meu palácio
    Trataremos de ir casar


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