Heteróclita
Clayce Kellen
Nasceu
E ao nascer
Palavras de amor não foram ditas
Cresceu
E ao crescer
Até em meio aos seus não foi bem vinda
Sentia ao acordar
A sensação de que aqui não era seu lugar
Vivia a esperar
Que um dia, lá de fora, alguém viesse lhe buscar
Longe da via Láctea
Onde pudesse se encaixar, enfim
Abrir as suas asas
Sem medo de cair
Mas o tempo passou
E com o tempo não se foram as feridas
Aprendeu com a dor
A sustentar a sua guarda sempre erguida
Autônoma razão
Que suprimiu do coração cada batida
De nada adiantou
Todo aquele vazio só poderia acabar
Longe da via Láctea
Onde pudesse se encaixar, enfim
Abrir as suas asas
Sem medo de cair
Pensou
E repensou
Nenhuma rota lhe mostrou uma saída
Não tinha a seu dispor
Motivo algum pra chamar a vida de vida
Chorou
Como chorou
Sentada sobre pedras
Tinham histórias pra contar
Então se levantou
Fez delas um castelo
E encontrou o seu lugar
Ali na via Láctea
Baixando sua guarda enfim
Sem precisar de asas
Sem medo de cair
Curou
Ele curou
O amor de Deus cicatrizou toda ferida
Mostrou
Ele mostrou
Que ausência do que for não define uma vida
Contou
Ele contou
Que é breve esse hiato que os separa, ainda, aqui
Um dia vai voltar
Acima das estrelas vão poder se encontrar
Além da via Láctea
Além da via Láctea
Além da via Láctea
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