Nas Rédeas do Vaqueiro
Dudé Viana
Quando o Sol abrilhanta o céu claro
O vaqueiro desperta alegremente
Põe logo os arreios no cavalo
E a cela bordada lindamente
Veste a roupa de couro ensebado
O paletó é o gibão todo decente
É couraça e a sua armadura
Pespontado de arreatas na costura
É valente, é peão, é casca dura
É do mato, é do sertão, é consistente
O vaqueiro só vive para o boi
Em função deste boi é que ele vive
E de couro sua roupa sempre foi
Resistente a espinho do perigo
Tem por dentro um forte para-peito
As perneiras e as luvas dedo largos
Alpercatas trançadas a seu jeito
Tem botinas ou sapatão fechados
Galopando no oeste potiguar
Até o Sol ficar todo encarnado
O chapéu de couro na cabeça
Que protege do Sol e do forte golpe
É o símbolo por mais simples que pareça
Da vaquejada, da história e do galope
Também serve de cuia pra beber água
Pra comer o alimento de sustança
Pra quebrar sobre o olho na lambança
Escondendo seu olhar calmo e faceiro
É amor, é emoção o tempo inteiro
São as coisas da vida do vaqueiro
A aridez do clima ele domina
A agressividade da flora é seu enfeite
A periodicidade da seca lhe fascina
A esterilidade do solo é seu leite
Nas serranias desnudas ele acontece
E não é um incipiente domesticado
Essa ingrata região não lhe enternece
Grotas fundas, tabuleiros e chapadas
O cavalo é o companheiro que trabalha
Nas veredas que o sertão lhe fornece
E lá vai ele cuidando do seu gado
Se embrenhado no mato a procura
Do boi que do rebanho separado
Se perdia pela caatinga escura
Ele dorme ao relento sob o céu
Ou na sombra de um pé de juá
Alimentando-se de frutos, broto e mel
Bebendo água das fontes que brotar
Exercitando seus estalos culturais
Com rebanhos, independência e currais
Com essa poeira modelou-se o vaqueiro
Fez-se homem, e quase nem foi criança
Atravessa a vida em artifícios ligeiros
Fez-se forte e prático
Compreendeu-se no combate sem trégua
Cedo encarou a existência tormentosa
No isolamento do ermo ensimesmou-se
Se tornando bárbaro, impetuoso e profundo
O vaqueiro é guerreiro e assim formou-se
Boca da noite se abre e engole o mundo
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