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Memória de Carreiro

Elcio Dias

Letra

    Quando ouço na chapada
    O tinir da canga e do carretão
    Sinto por dentro uma pontada
    Ai que dor no coração
    É que esse canto em eras passadas
    Representava uma aliança
    Entre os cascos na poeira das estradas
    Meus sonhos de criança

    O canto da passarada
    Com o carro duetava
    O azul do céu com a terra
    Naquele instante se encontrava
    O orvalho da manhã
    Era cristal na luz do dia
    Até parecia o amor
    Ardente do zoio de maria

    Eh tempo que foi
    Te guardo no coração
    Eh carro de boi
    Sumiste no estradão

    Eh tempo que foi
    Te guardo no coração
    Eh carro de boi
    Sumiste no estradão

    Hoje tenho as mãos calejadas
    Meu trabalho é duro e cruel
    Só me restou uma sorte marvada
    Boi de canga do coronel
    Faço parte dessa manada
    Na cidade tonta e perdida
    Me vem na garganta
    Um nó de laçada
    No meu peito uma sodade doída

    A cantoria da chapada
    Hoje é buzina de metal
    O aboio da boca da noite
    Hoje é sirene de hospital
    Orvalho só resta nos olhos
    O sol já não faz meio-dia
    O que ainda me sustenta
    E fé em Deus e paz na guia

    Eh tempo que foi
    Te guardo no coração
    Eh carro de boi
    Sumiste no estradão

    Eh tempo que foi
    Te guardo no coração
    Eh carro de boi
    Sumiste no estradão


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