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Um Fado a Marceneiro

Fernando Farinha

Letra

    Á solta e desvairada
    A morte, certo dia
    Entrou no velho pátio
    E ali, quase em segredo

    Num golpe traiçoeiro
    De raiva e cobardia
    Maldosa nos levou
    Pra sempre o Ti Alfredo

    Ao chorar das Guitarras
    Cubo se fosse um hino
    Juntou-se a voz do povo
    De Portugal inteiro

    Tinha morrido o Rei
    Fadista Genuíno
    O Mais de todos nós
    O Grande Marceneiro

    Sua garganta rouca
    Tinha o condão o bem
    Que nos dava algo a sério
    Sem ais sem fantasia

    Se o Fado para ser Fado
    Algum segredo tem
    Então esse segredo
    Só ele o conhecia

    Sempre que a noite chega
    Eu julgo ainda vê-lo
    Fazendo a sua ronda
    Pelos retiros de Fado

    De boné ou mostrando
    O seu farto cabelo
    E o seu lenço Varino
    Ao pescoço ajustado

    Recordo as suas birras
    E em grande cavaqueira
    Seus gritos graciosos
    Se bem disposto estava

    E oiço até o seu riso
    No Cacau da Ribeira
    Onde já de madrugada
    Sua ronda findava

    De Alfredo Marceneiro
    Eu guardo um disco antigo
    E um retrato dos dois
    Sobre um fundo bairrista

    De Alfredo Marceneiro
    Eu guardo um disco antigo
    E um retrato dos dois
    Sobre um fundo bairrista

    Um Fado ao Desafio
    Que ele cantou comigo
    E uma eterna saudade
    Desse enorme Fadista

    Um Fado ao Desafio
    Que ele cantou comigo
    E uma eterna saudade
    Desse enorme Fadista


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