Canção de D. Maria esperando o regresso das naus
Filipa Pais
Por tanto homem atrair
Tem la mar de ser mulher.
Com voz de sereia os chama,
com segredinhos de dama
Deles faz o que bem quer.
Fracos abismos se escondem
Debaixo da minha saia
A rival que assim me mata
É feita de espuma e prata,
Dorme em leitos de cambraia.
Aquelas gentes gentias
Que feitiços te farão?
Passo a noite a magicar,
Agulha de marear
Cravada no coração.
Ai que mentiras guardavas,
Meu marido em teu olhar.
mal tomavas de mim posse,
já te rendias ao doce
Chamamento de la mar.
Dizem que trazes fortuna,
Escravos, pós e pedraria.
Que me importa tal riqueza
Se eu estarei já, com certeza,
Velha e feia, morta e fria?
Ai, pobre de mim, traída
Ai, pobre de mim, deixada!
Se me voltarás com vida,
Se te esperarei honrada?
Ou se me acharás perdida,
Por sol-posto inda deitada
Com escudeiro que ao meio-dia
Me namorava a criada?
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