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Aquela Janela Virada Pró Mar

Francisco José

Letra

    Cem anos que eu viva não posso esquecer-me
    Daquele navio que eu vi naufragar
    Na boca da Barra tentando perder-se
    E aquela janela virada pró mar

    Sei lá quantas vezes desci esse Tejo
    E fui pelo mar fora com a alma a sangrar
    Levando na ideia os lábios que invejo
    E aquela janela virada pró mar

    Marinheiro do Mar Alto
    Quando as vagas uma a uma
    Prepararem-te um assalto
    P´ra fazer teu barco em espuma

    Reparo na quilha bailando na crista
    Das vagas gigantes que o querem tragar
    Se não tens cautela não pões mais a vista
    Naquela janela virada pró mar

    Se mais ainda houvesse mais fortes correra
    Lembrando-me em noites de meio luar
    Dos olhos gaiatos que estavam à espera
    Naquela janela virada pró mar

    Mas quis o destino que o meu mastodonte
    Já velho e cansado viesse encalhar
    Na boca da barra e mesmo defronte
    Naquela janela virada pro mar

    Marinheiro do mar alto
    Olha as vagas uma a uma
    Preparando-te um assalto entre montes de alva espuma
    Por mais que elas bailem numa louca orgia
    Não trazem desejos de me torturar
    Como aquela doida que eu deixei um dia
    Naquela janela virada pró mar


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