Fabula Trancosi
Gato Zarolho
I
Discreto, como o mais comum dos homens.
Notado apenas pela precisão
Com que, por sete dias, sete não,
De sua chaminé fumaças sobem.
Por longos anos viveu encoberto
Trancosus, em sua busca dos arcanos;
Por noites, estudando, cozinhando,
Sabendo que no mundo pouco é certo.
"Ora, lege,
Labora et invenies;
Lege, relege,
Labora et invenies."
Numa noite, em que nas terras de (M)orpheus
Entrara, após uma longa vigília,
Trancosus palmilhou trevosas trilhas,
Buscando o desvelar dos olhos seus;
Há muito perseguia o Grande Livro
Urdido com palavras enganosas
E, enfim, chegara a termo a Grande Obra;
Cumprira o Adepto, enfim, o seu destino.
"Ora, lege,
Labora et invenies;
Lege, relege,
Labora et invenies."
II
De posse, então, do Clavis Prophetarum,
Intenta recitar-lhe uma sentença
Antes de retomar a trilha extensa
Que o levará de volta a Acordado.
Porém, tão logo à boca vem-lhe a frase,
Espanta-se e custa a entendê-la:
Se "pedra" pronuncia, ouve "estrela",
Se pronuncia "estrela", escuta "vale".
A Trança mais cerrada se apresenta;
Trancosus não lhe vê como fugir:
"teus lábios testemunham contra ti! -
Parece-lhe dizer toda sentença.
O Céu, uma das Pátrias do Alquimista,
Tormentas grandiosas lhe oferece;
In seculae seculorum ele segue
Cruzando por Florestas Movediças.
"Ora, lege,
Labora et invenies;
Lege, relege,
Labora et invenies."
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