Pedidos de um Gaúcho
Gildo de Freitas
Quero deixar uns pedidos
Já gravem bem na memória
Quando eu ir para o céu
Que findar a minha história
Vou cantar versos pra os anjos
Pra todo reino da glória
Tirem a lonca da reza e
Façam um grande sóvel
Que eu possa subir por ele
Até na porta do céu
Porque Deus há de ouvir
A reza que o povo fez
E eu de lá hei de cantar
Versos lindos pra vocês
E o meu primeiro pedido
Agora vou declarando
Quero uma cavalaria
Meu enterro acompanhando
O povo batendo palma
E uma sanfona chorando
Na hora de me velar
Quero quatro candeeiro
Devidamente pilchado
Meus amigos e companheiros
E quero ser enterrado
Bem ali no meu potreiro
Em roda do meu jazigo
Deixem crescer o capim
Um ou dois cavalos amigo
Pastando em roda de mim
Não me ponham na parede
Porque é contra o meu querer
Me ponham na terra virgem
Que me ajudou a crescer
Não é preciso haver choro
Que todos pensem assim
Quero dois índios trovando
No dia que eu tiver fim
E o que eu cantei por vocês
Quero que cantem por mim
Amigos este convite
É pra o fim da minha vida
Quero cantiga à vontade
Que corra frouxa a bebida
Bebam cantem, mas não briguem
E respeitem o meu defunto
Para evitar que eu me alerte
E saia pelejando junto
E o meu último pedido
Atendam com devoção
A bandeira do Rio Grande
Enrolem no meu caixão
E um letreiro na cruz
Que vai cravada no chão
Aqui descansa um gaúcho
Que honrou a tradição
Vamô encerra a porteira!
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