Cántiga De La Memoria Rota

Canção da Memória Quebrada

Cántiga De La Memoria Rota

Veio nadar na praia entre minhas pedras,Vino a nadar la playa entre mis rocas,
O mar me observou onda após onda,El mar me ha contemplado ola tras ola,
O barco pilotou minha carcaçaEl barco ha timoneado mi carcasa
E a concha escuta meu murmúrio.Y escucha mi rumor la caracola.

O calor se despede da minha lã,El calor se despoja de mi lana,
A ovelha me tosquia em cada verão,La oveja me trasquila en cada estío,
Meu pai bebe do meu vinho forteMi padre bebe de mi vino brusco
E minha mãe se pendura no meu barco.Y mi madre se cuelga de mi avío.

Um cavalo e sua esporas me montam,Un caballo y su espuela me cabalgan,
Um caminho me pisa todo dia,Un camino me pisa diariamente,
Os sapatos do pó me marcaramLos zapatos del polvo me han hollado
E o sol me vê como um cruelY el sol me considera un inclemente
Que queima com seus raios a galera.Que quema con sus rayos a la gente.

A terra preparou minha pele lisa,La tierra ha preparado mi piel llana,
O arado me corta enfurecido,El arado me surca embravecido,
O trigo espalhou minhas sementesEl trigo ha dispersado mis semillas
E o pão com dente claro me mordeu.Y el pan con diente claro me ha mordido.

O frio faz um manto com meu sangue,El frío hace un chamanto con mi sangre,
A boca de um uivo me proclama,La boca de un aullido me proclama,
A casa que me abriga não me varreLa casa que me habita no me barre
E sobre minha extensão dorme uma cama.Y sobre mi extensión duerme una cama.

A porta bate em busca de alguém,La puerta me golpea en busca de alguien,
A lágrima me enxuga em dois lenços,La lágrima me enjuga en dos pañuelos,
Um espelho reflete meus ultrajesUn espejo se mira en mis ultrajes
E há um livro que lê em meu desvelo.Y hay un libro que lee en mi desvelo.

A dúvida me confunde com abrigo,La duda me confunde con abrigo,
O malfeitor comenta meu passo em falso,El malhechor comenta mi mal paso,
Um país me procurou no mapaUn país me ha buscado sobre el mapa
E nunca encontrou o menor traço,Y no ha encontrado nunca el menor trazo,
E essa ferida me cura a amarguraY esa herida me venda la amargura
E a morta se deita entre meus braços.Y la muerta se duerme entre mis brazos.