Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões

Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações

Meu barracão lá no morro do salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou

E hoje quando do sol a claridade
Forra meu barracão sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou

Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda qual bandeiras agitadas
Parecia um estranho festival
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que no morro mal vestido
É sempre feriado nacional

A porta do barraco era sem trinco
E a lua furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas nos astros, distraída
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão

Composição: Orestes Barbosa / Silvio Caldas