Tango do Meretrício
João de Almeida Neto
Rasguei a certidão de casamento
Finquei o braço na mulher
Foi um gritedo vesti uma fatiota elegante
Despachei duas amantes e me mandei pro chinaredo
Não há lugar melhor que o meretrício
No vício é que eu encontro meu papel
Me enfrasco e canto um tango pras gurias
Que eu sou filho de uma tia da empregada do gardel
Desde guri eu nunca fui um bom sujeito
Pois a falta de respeito sempre foi minha vocação
Me lendo a mão uma cigana disse tudo
Ou capam esse cuiúdo ou emprenha toda nação
Dizem que bom eu só vou ser depois de morto
Porque pau que nasce torto não dá mais prá endireitar
Eu sou teimoso e por não concordar com isso
Me mandei pro meretrício e fico até desentortar
Amanhã minha mulher que é uma cruzeira
Vai reunir a família inteira prá tentar me redimir
Mas eu garanto que enquanto tiver dinheiro
Nem que chamem os bombeiros não me tiram mais daqui
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