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4 Odes de Ricardo Reis

João Villaret

Letra

    Não consentem os deuses mais que a vida
    Tudo pois refusemos, que nos alce
    A irrespiráveis píncaros
    Perenes sem ter flores
    Só de aceitar tenhamos a ciência
    E, enquanto bate o sangue em nossas fontes
    Nem se engelha connosco
    O mesmo amor, duremos
    Como vidros, às luzes transparentes
    E deixando escorrer a chuva triste
    Só mornos ao Sol quente
    E reflectindo um pouco

    Como se cada beijo
    Fora de despedida
    Minha Cloé, beijemo-nos, amando
    Talvez que já nos toque
    No ombro a mão, que chama
    À barca que não vem senão vazia
    E que no mesmo feixe
    Ata o que mútuos fomos
    E a alheia soma universal da vida

    Esse ritmo das ninfas repetido
    Quando sob o arvoredo
    Batem o som da dança
    Vós na alva praia relembrai, fazendo
    Que escura a espuma deixa; vós, infantes
    Que inda não tendes cura
    De ter cura, responde
    Ruidosa a roda, enquanto arqueia Apolo
    Como um ramo alto, a curva azul que doura
    E a perene maré
    Flui, enchente ou vazante

    Ponho na altiva mente o fixo esforço
    Da altura, e à sorte deixo
    E as suas leis, o verso
    Que, quando é alto e régio o pensamento
    Súbdita a frase o busca
    E o escravo ritmo o serve


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