Morre-se Assim
Jorge Mautner
No meio das névoas e mergulhado na melancolia
Ao lado de tristes ciprestes, ajoelhado
Derramando quentes lágrimas de saudade
Perante o túmulo da minha amada
Morre-se assim
Como se faz um atchim
E de supetão
Lá vem o rabecão
Morre-se assim
Como se faz um atchim
E de supetão
Lá vem o rabecão
Não não não não não não não não
Não não não não
Sim sim sim sim sim sim sim sim sim
Mas porém contudo todavia
No entanto outrossim
Uma bala perdida desferida na rua dos paqueradores de travesti
Voou e foi alojar-se no crânio de uma velha senhora
Que lia com fervor a sua bíblia lá no morumbi
No cemitério, pra se viver é preciso primeiro falecer
Os vivos são governados pelos mortos
Que nada, os vivos são governados pelos mais vivos ainda
E no cemitério, em Évora, lê-se
Nós, os Ossos, esperamos pelos Vossos
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