Descendente
Lisandro Amaral
Será índio o filho novo
Que recebi destes tempos?
Terá o sopro dos ventos
E cantará ao seu povo?
Pensando assim, vou de novo
Á intenção de indagá-lo.
Agora hei de cantá-lo
Na eternidade de irmão,
Pois traz o campo nas mãos
E o sangue dos meus cavalos...
Indiozito curandeiro
Dos meus espinhos que sangram...
Das dores que arremangam
Bombachas de peão tropeiro.
Há um vulto em mim - noiteiro,
Que reza em verso e que canta
E, quando a luz se levanta
Aos olhos baios do dia,
Eu agradeço a poesia
Que derramei da garganta;
Eu agradeço a poesia,
Que reza em verso e que canta...
João antonio eu te batizo,
Verso perfeito de pai,
Nome composto que atrai,
Porque lembrar é preciso.
Se ao versejar me escravizo
Diante á pena contida,
Escorro - joão - dolorida
A hora em que está teu mundo;
E ás vezes respiro fundo,
Te oferecendo esta vida...
O mundo é mundo e será
Até quando deus quiser!
Quando se pensa o que quer,
Um pai ao filho dirá.
Espinha e caraguatá,
Dá sombra o umbu campeiro;
O amor é mais que o dinheiro,
O espírito - sim - é eterno,
E só é frio o inverno
Pra que não crê - curandeiro.
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