Na fazenda que eu nasci vovô era retireiro
Bem criança eu ajudava prender o gado leiteiro
Um dia de manhã cedo vejam só que desespero
Tinha um bezerro doente e a ordem do fazendeiro
Mate já esse animal e desinfete o mangueiro
Se essa doença espalhar poderá contaminar
O meu rebanho inteiro

Eu notei que o meu avô ficou bastante abatido
Por ter que sacrificar o animal recém-nascido
Nas lágrimas dos seus olhos eu entendi seu pedido
Pus o bichinho nos braços levei pra casa escondido
Com ervas e benzimentos seu caso foi resolvido
Com carinho eu lhe tratava e o leite que o patrão dava
Com ele era dividido

Quando o fazendeiro soube chamou o meu avozinho
Disse você foi teimoso não matando o bezerrinho
Vai deixar minha fazenda amanhã logo cedinho
Aquilo feriu vovô como uma chaga de espinhos
Mais há sempre alguém no mundo que nos dá algum carinho
E sem grande sacrifício vovô arranjou serviço
Ali no sítio vizinho

Em pouco tempo o bezerro já era um boi herado
Bonito forte e troncudo mansinho e muito ensinado
Automóvel do atoleiro ele tirava aos punhados
Por isso na redondeza ficou bastante afamado
Até que um dia á noitinha um homem desesperado
Gritou pedindo socorro seu carro caiu no morro
Seu filho estava prensado

O carro da ribanceira o boi conseguiu tirar
O menino estava vivo seu pai disse a soluçar
Qualquer que seja a quantia esse boi eu vou comprar
Eu disse ele não tem preço a razão vou explicar
A bondade do vovô veio seu filho salvar
Esse Nelore Valente é o bezerrinho doente
Que o senhor mandou matar

Composição: Sulino / Antônio Carlos