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Solidão

M-26

Letra

    Dissipam-se as brumas ao fim da noite
    Negra e vasta imensidão desolada
    Assim em infinita brevidade
    A solidão é boa quando voluntária

    Temes a ti mesmo
    Mais que a própria morte
    Pérfida batalha
    Travas contra a sorte

    Quero subir o morro mais alto
    O homem inveja o vôo do pássaro
    Quero livre andar por verdes campos
    O som da água acariciando as pedras
    Quero respirar vapores clarificantes
    Já elevaste teu espírito hoje?
    Quero acender minha última vela
    A solidão é boa quando voluntária

    Do alto de minha solidão contemplo o mundo
    Derradeiro afastamento que da vida me aparta
    Férrea decisão de desdém à humanidade
    E enquanto os mortos riem da dor dos que estão vivos
    Eu humildemente choro
    Choro por alguns mas não por todos
    Choro por aqueles que aceitaram a árdua condição de redentores de si mesmos
    E ainda assim, caem na ilusão

    Florescem as ruínas minadas de dor
    Na ignorância eminente de tua penúria
    Unificado o ciclo, propagam-se nos horizontes
    Melodias que de meu semblante emanam

    Foges de teu medo
    Oculta-o de ti mesmo
    Mas diante do espelho
    Desvelam-se os segredos

    Quero perplexo brindar à noite
    Assim em absoluta relatividade
    Quero entender metade do que se passa
    Negra e vasta imensidão desolada
    Quero passar como passam os pássaros
    Visão romantizada do passado
    Quero ficar como ficam as pedras
    Em um dia nublado de folhas verdes

    O amargo fel que em teus lábios bebi
    Oceano sem luz, escuridão
    Nas tuas negras vagas o pavor senti
    E mergulhei em teus braços, ó fria ilusão

    Ó loucura que adentra meu ser
    Quebra estes grilhões
    Liberta-me!

    Sinto a dor, a angústia e o medo
    Que me corrói
    E o chão sob os meus pés se esvai
    A maldição
    Que agrilhoa com vis correntes de ilusão
    Saibam seu nome
    Solidão

    Imo sens

    A insanidade que adentra teu ser
    Abrasa tua amargura
    Toda a quietude da alma dilacerada
    Num único instante aniquilada

    Temes a ti mesmo
    Mais que própria sorte
    Pérfida batalha
    Travas contra a morte

    Quero saber o que sabem os velhos
    Dissipam-se as brumas ao fim da noite
    Quero sentir o que sentem os jovens
    As flores cobertas de orvalho ao amanhecer
    Quero pensar que tudo é sublime
    Imaginação criando música e poesia
    Quero assim chegar ao fim desta invernada
    Plenamente satisfeito em ver nada

    Em meio ao silêncio e à escuridão
    Contemplo ante luzidio espelho
    Toda a ilusão que criei
    Cuspindo farpas e espinhos de um ódio
    Que insiste em meu peito queimar
    Ante o malogro desta existência
    Que a cada dia um tanto se esvai
    E nesta sina de angústia e auto-destruição
    Caminho só, a trêmulos passos
    Até que retorne
    A noite do ser


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