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Letra

    O dia era gelado
    Cena triste foi aquela
    O trator era mais largo
    Que a largura da Viela
    Ouvi que alguém gritou
    Meu Deus até a Capela
    Corriam mães com os filhos
    Enrolados nas flanelas.
    E a Lei com a voz ativa
    Dava ordem coletiva
    De despejo na favela.

    Trator na primeira na praça
    Derrubou o barracão
    Vi de cabeça pra baixo
    Um bercinho e um fogão,
    Uma cadeira de rodas,
    Um chocalho e um bastão
    Era o espelho da heroína,
    Da criança e do ancião.
    Mais pra frente eu vi que tinha
    A imagem da santinha
    Que traz a casa na mão.

    Favela, Favela
    Quantos sonhos dentro dela.
    Favela, Favela
    Quantos sonhos dentro dela.

    Junto a estatua ainda eu vi
    Amarrado um bilhetinho
    Ó minha Santa Efigênia
    Eu vos peço com carinho
    Que logo a minha família
    Mude pro nosso cantinho,
    E que seja como aqui
    Um lugar de bons vizinhos.
    Assinado Sonia Reis
    Do Barraco trinta e seis
    Lado esquerdo do riozinho.

    Conforme o trator passava
    Derrubando o favelão
    No peito de do Sonia
    Parava o Coração
    Deus olhando o seu pedido
    E o barraco ali no chão
    Lhe deu uma casa igual
    A que a Santa traz na mão
    E atendendo o bilhetinho
    Deus lhe deu como vizinhos
    Os Anjos da imensidão.

    Favela, Favela
    Quantos sonhos dentro dela.
    Favela, Favela
    Quantos sonhos dentro dela.


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