Num saco de estopa com embira amarrado
Eu tenho guardado a minha paixão
Uma bota velha, chapéu cor de ouro
Bainha de couro e um velho facão!
Tem um par de espora, um arreio e um laço
Um punhal de aço e rabo de tatu!
Tem uma guaiaca ainda perfeita
Caprichada e feita só de couro cru!

Do lampião quebrado só resta o pavio!
Pra lembrar o frio, eu também guardei
Um pelego branco que perdeu o pelo
Apesar do zelo com que eu cuidei!
Também um cachimbo de canudo longo
Quantos pernilongos com ele espantei?
Um estribo esquerdo que eu guardei com jeito
Porque o direito na cerca eu quebrei

A nota fiscal, já toda amarela
Da primeira sela que eu mesmo comprei
Lá em Soledade na Casa da Cinta
Duzentos e trinta na hora eu paguei!
Também um recibo já todo amassado
O primeiro ordenado que eu faturei!
É a minha tralha num saco amarrado
Num canto encostado que eu sempre guardei

Pra mim, representa um belo passado
A lida de gado que eu tanto gostei!
Assim enfrentando um trabalho duro
Eu fiz meu futuro sem violar a lei!
O saco é relíquia dos seus apetrechos
Não vendo e não deixo ninguém por a mão!
Nos trancos da vida, aguentei o taco
E o ouro do saco é a recordação

Composição: José Caetano Erba / Paraíso