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É Mais Ou Menos Assim

Telmo de Lima Freitas

Letra

    Como mudaram os tempos
    Como a vergonha escasseou
    Parece que evaporou
    A essência fundamental
    Cada dia um vendaval
    Muda o rumo da verdade
    E aquela honestidade
    Ferrenha de antigamente
    Vai mudando diariamente
    Restando apenas saudade

    A estância continua
    Com os mesmos afazeres
    Sempre c’os mesmos deveres
    Na espera dos obreiros
    Se existir maus campeiros
    A tropa toda extravia
    Pois quando não se confia
    No que faz o remanejo
    Apenas fica o desejo
    O resto, vai a “la cria”

    Pois hoje em dia, o refugo
    Pesa muito na balança
    A coisa ruim sempre avança
    Sem respeitar aramado
    Se a culpa foi do finado
    De afrouxar o garrão
    Dando vez ao palavrão
    Pra invadir serra e fronteira
    Deu tudo pro bagaceira
    Se chamar de cidadão

    Entrar na casa dos outros
    Sem nunca ser convidado
    Colher o que foi plantado
    Por rebeldia, no mais
    Usar roupas sem remendo
    Mão calejada da cuia
    Polegar todo cortado
    De tanto fazer “paiero”
    Não se iluda, companheiro
    Quanto mais sei, mais aprendo

    Às vezes eu me campeio
    E não me encontro comigo
    Quero parar, mas prossigo
    Por incrível que pareça
    Chego perder a cabeça
    Sem saber pra onde vou
    Às vezes, nem sei quem sou
    Quando tapeio o sombreiro
    Bem do jeito missioneiro
    Do falecido vovô

    Segundo mamãe contava
    Não era flor o velhinho
    Lá no Pinheiro Bonito
    De São Francisco de Assis
    Se criou como aprendiz
    Num templo de maragatos
    Chapadões, várzeas e matos
    Gostava de recorrer
    Naqueles tempos, la pucha
    Usar um lenço encarnado
    Era procurar encrenca
    Ou pedir para morrer

    Em toda parte existia
    Homem temperado a fogo
    Não se dobrava por nada
    Nem mudava de partido
    Envelhecia peleando
    Perdia mais que ganhava
    Mas não se desacorçoava
    Daquela luta ferrenha
    Fazia parte da vida
    Herdada com sangue e suor

    Muitos deixavam os pagos
    Emigravam co’a família
    Numa carreta sem tolda
    Sem direção definida
    Filhos pequenos, coitados
    Nem sabiam pr’onde iam
    Muitos choravam com fome
    Por falta do que comer
    Saíam meio a “las pressas”
    Pra evitar um massacre
    Que podia acontecer

    Piedade não existia
    Matavam porco, galinha
    “Rebanhavam” os cavalos
    Ainda atiçavam fogo
    No paiol de feijão miúdo
    O que sobrou que se lixe
    Velhos coitados pediam
    Pra não levarem os netos
    Mas não adiantava nada
    Quem não marchava, morria

    E, agora, de novo, vejo
    Esse desmando maleva
    Sem saber quem é que leva
    Nem saber quem é que deixa
    Pouco adianta fazer queixa
    Continuam a confusão
    Enxada, foice, facão
    Vão se adonando do todo
    E a gente pisa no lodo
    Que ficou das invasões

    Cuidado! Muito cuidado
    Temos que ter no momento
    Pouco adianta testamento
    Ou partilha escriturada
    Numa forma abarbarada
    Não respeitam nem sinal
    A marca patrimonial
    Querendo, pode borrar
    Difícil é resgatar
    A forma justa e legal

    Eu ando trocando orelha
    Na espera dum caudilho
    E cada vez que dedilho
    Esta guitarra campeira
    Trago de arrasto a fronteira
    Num canto de contraponto
    Sonhando, ás vezes, eu monto
    No meu cavalo guerreiro
    E, com ares de missioneiro
    Eu prendo o grito: Estou pronto!


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