Um Domingo No Resbalo
Telmo de Lima Freitas
Toldei um baio a preceito
Já se findava a semana
Fui cantar a queromana
Na Invernada do Resbalo
E foi dos maiores “palo”
Que já dei quando travesso
Fiz um piá virar do avesso
Num encontrão de cavalo
Quando cheguei no bochincho
Que escutei a de “oito-baixo”
Tocando um vanerão macho
Dos de arrancar pessegueiro
Até o meu baio-oveiro
Por incrível que pareça
Rinchando, ergueu a cabeça
Escarceando de faceiro
Boleei a perna na frente
Para olhar o sarandeio
Dali um poquito se veio
Um famoso desordeiro
Se enfiando no mosquiteiro
Que nem piolho em costura
“Chuliei” direito à cintura
E relampeou a marca Coqueiro
Já fiquei me balanceando
Que nem pelincho no arame
Pensando num rolo infame
Que às vezes se promove
Mas deixa que se retove
Isso é fogo que se apaga
Cortei doce co’a minha “daga”
Hoje quero que alguém prove
Fiquei segurando o baio
Pela ponta do cabresto
E um mulato, com pretexto
De “torito” mui valente
Falando entre os dentes
Amigo, o mosquiteiro
É pequeno pra potreiro
Tire o matungo da frente!
Encarei pro índio maula
Respondendo a “piruada”
Desculpa, estou de cruzada
Não danço aqui no Resbalo
Mas sei que tu és o galo
Aqui deste rinhadeiro
Vou montar no baio-oveiro
Mas vou dançar a cavalo
O nojo desse moleque!
Gritou a dona da casa
E mesmo que gato em brasa
Pulou a parda entonada
Erguendo a tranca oitava
Furioso o rabo de saia
Mais braba do que lacraia
De soiteira sapecada
E foi quando oitavei o corpo
E a tranca cruzou de viagem
A parda tinha coragem
Mas afrouxou o garrão
Co’a bainha do facão
Lhe soltei no recavém
E saiu quem-que-che-chem
Que nem cusco em procissão
Mas o mulato aporreado
Mandava na rapariga
Puxou dum marca Formiga
Me largando de pranchaço
No primeiro pegotaço
Rebati com muita ciência
Demonstrando a experiência
De bater aço com aço
E aí saímos peleando
Umdava, outro rebatia
Naquele instante se ouviam
Choromingos de facão
No segundo pegotão
Que me largou de estouro
Já chegava de namoro
Consegui “dá” um beliscão
Larguei de fio, sem piedade!
Só vi quando “coloriou”
E o facão despencou
Saindo sem direção
Quando prestei atenção
A minha “daga” valente
Cortou beiço, língua e dente
E o nariz caiu no chão
Pensei que daquele feita
Pudesse arrastar as fichas
Mas um tal de “Lagartixa”
Resolveu me tentear
Me soltando pelo ar
Um facãozito três listas
Na hora, faltou-me a vista
Me cortando o polegar
Aí fiquei parecido
Abelha que se alvorota
Ameacei de canhota
E troquei de mão ligeiro
Mas o moleque arruaceiro
Disparou que nem guaipeca
Lhe aparei sem muita seca
O contrapeso traseiro
O culpado não fui eu
De fazer esse estropício
Desde piá tive por vício
De sair campear bochincho
E me topei co’o capincho
Que por maleva era tido
E fiz sair mais espimido
Do que guisado em curincho
Assim terminou um aparte
Num domingo no Resbalo
Depois monte a cavalo
E saí pro corredor
Este vago cantador
Cortando o rumo ao contrário
Até hoje o comissário
Procura o meu parador
Comentários
Envie dúvidas, explicações e curiosidades sobre a letra
Faça parte dessa comunidade
Tire dúvidas sobre idiomas, interaja com outros fãs de Telmo de Lima Freitas e vá além da letra da música.
Conheça o Letras AcademyConfira nosso guia de uso para deixar comentários.
Enviar para a central de dúvidas?
Dúvidas enviadas podem receber respostas de professores e alunos da plataforma.
Fixe este conteúdo com a aula: