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Pelo Atlântico (Acústico)

Thomas

Letra

    Dor mar surgem
    Porcos com canhões
    Em missão
    Velas com a cruz
    Alma na intenção da maldição
    Guerreiro filho Ogum
    Se torna mais um preto no porões
    Ratos riscam pólvora
    E bum
    Caem mil leões
    Mais poder
    E ouro
    Nas vestes do pontífice
    O pecado
    Foi não ser igual a eles
    Imagine se
    No porto de Luanda
    Exposto a comitiva vinda
    Da nova América
    E seu preço é um barril de pinga
    Seda chinesa ou tempero indiano
    Tratamento desumano
    Animal se diz mais humano
    Nos dizimando
    Me diz ae mano
    Quem cometeu tal pecado
    Que meu povo ta pagando
    Sera que Deus
    Olha, sera ta la
    Independente de qual
    Jesus, ala, oxalá
    Ignoram minha alma
    Meu brilho no olhar
    Pra não ser o próximo
    Vende o irmão se precisa
    Pretos contra pretos
    Dando lucro a lusos
    Confusos
    Ser livre e luxo
    Velho sistema e seus abusos
    Mascara de ferro
    Impedem a resistência
    Doença
    Viver já não compensa
    Grilhões prendem meus pês
    Me despeço do céu no convés
    Esperança fico em terra
    Nos tornando infiéis
    Milhares como eu
    Morreram no naufrágio
    Ou jogados ao mar
    Vitimas do contagio
    Cada milha do atlântico
    Dobra minha tortura
    Um minuto
    Dura
    Dias, a cada noite escura
    Da popa a proa
    O choro ecoa
    E não à toa
    De angola pra Bahia
    Pro Haiti de serra leoa
    Só nos resta espera
    A nova terra chegar
    Banzo vai me matar
    Já não consigo respirar
    Por falta de fê
    Não por falta de ar
    La se vai meu axe
    Na lágrima a rolar

    Sera que os que viram depois de mim saberão
    Sera que os que daqui partiram la chegaram
    Sera por quantos anos vai durar
    Essa tortura

    O Atlântico é uma imensidão
    Pra se atravessar
    Ainda mais sem nada
    Pra beber ou se alimentar
    Condição que doí
    Só de pensar
    Chamar de porão
    E amenizar
    E humilhação
    Pra sacia o cão
    Europeu, doente, cristão
    Aqui não existe compaixão
    Só imposição de fé
    A senzala o barão
    E a plantação de café
    Dente bom canela fina
    Bom preço
    Capitão do mato
    Mata sem pretexto
    Nego fujão
    Não aceita essa vida
    Rouba o alazão
    E sobe a serra da barriga
    O Sol forte e o chicote castiga
    Feijão com restos
    É o que nóis mastiga
    Lembro a mãe africa
    Em cada cantiga
    E vou de capoeira
    Pra cima dessa briga


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