Tú te recolhes cansado
Lutaste contra o fiasco
E vês o espelho embaçado
Que odeias como a um carrasco
Pensar que todo teu tempo
Perdido na vida está
E que fizeste platéia
Num tristonho mafuá
És professor de mentiras
Um mestre para enganar
Dizendo que o mundo inteiro
Pretende te contratar
Não tens tostão p'ra comer
Mas tens que fingir cartaz
Que és amigo dos cartazes
E com eles jantarás

Artista
Vai ficando pouco a pouco
Meio velho meio louco
Na ambição de triunfar
É hora
De calcular friamente
Que a sorte neste ambiente
Não te quis dar um lugar
No corpo
Só tens um terno acabado
Quase trapo, remendado
Que já não vale um tostão
Artista
Que hoje é pura mentira
Que na miséria delira
Com um mundo de ilusão

E se aparece o trabalho
Que caso fazes do nome
O que te importa é o dinheiro
O que magôa é a fome
Para escapar ao relento
Tú vives pelos cafés
Mentindo, mentindo sempre
O que foste e o que tú és
Porém o espelho te conta
Mostrando tua figura
Que tudo passou na vida
E agora, é só amargura
Porém se te condenarem
Responderás, eu bem sei
Nasci para ser artista
E como artista, morrerei!

Composição: H. Bagnolli / H. Barbosa / M. Ruiz II