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Bolero do Coronel Sensível Que Fez Amor em Monsanto

Vitorino

Letra

    Eu que em comovo
    Por tudo e por nada
    Deixei-te parada
    Na berma da estrada
    Usei o teu corpo
    Paguei o teu preço
    Esqueci o teu nome
    Limpei-me com o lenço
    Olhei-te a cintura
    De pé no alcatrão
    Levantei-te as saias
    Deitei-te no banco
    Num bosque de faias
    De mala na mão
    Nem sequer falaste
    Nem sequer beijaste
    Nem sequer gemeste
    Mordeste, abraçaste
    Quinhentos escudos
    Foi o que disseste
    Tinhas quinze anos
    Dezasseis, dezassete
    Cheiravas a mato
    À sopa dos pobres
    A infância sem quarto
    A suor a chiclete
    Saiste do carro
    Alisando a blusa
    Espiei da janela
    Rosto de aguarela
    Coxa em semifusa
    Soltei o travão
    Voltei para casa
    De chaves na mão
    Sobrancelha em asa
    Disse: fiz serão
    Ao filho e à mulher
    Repeti a fruta
    Acabei a ceia
    Larguei o talher
    Estendi-me na cama
    De ouvido à escuta
    E perna cruzada
    Que de olhos em chama
    Só tinha na ideia
    Teu corpo parado
    Na berma da estrada
    Eu que me comovo
    Por tudo e por nada


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