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Carta ao Irmão Menor

Catranca

Deixo-te o meu legado sem força ou fé
Sem ter tido sentido nos versos que a vida inspirou
Despeço-me de tudo e de todos que um dia conheci
Rumo ao desconhecido sem nexo ou sexo
Sem lágrima dor ou amargura
E essa fissura corroendo a alma
Calmamente semeando o trauma
Calmamente semeando o trauma

Não fui exemplo, não fui completo, nunca fui são
Doente de corpo, cabeça, espírito e ainda do coração
Busquei ter o que me alimente, corri da enchente sem me molhar

Com o rabo entre as pernas
Sem ter razão nem porquê
Como um carro atrás do outro beirando o meio fio
Só pra tentar encontrar uma saída
Numa rima sem graça, num acorde menor
Pouco importam os livros, as fotos
Pouco importam as caras ou a sorte
Só resta agora partir

Partir o pão, comer no chão, sorrir ou amar
Estar em paz, perder a voz, sonhar por nós
Brincar de careta no espelho velar o teu sono, irmão menor
Brincar de careta no espelho velar o teu sono, irmão menor

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